DESTAQUES DA BIBLIOTECA – agosto/2021

Neste mês de agosto, o Japão relembra o bombardeio nuclear sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. A Biblioteca da Fundação Japão em São Paulo destaca de seu acervo livros que tratam deste acontecimento trágico. E como sugestão de leitura indica a obra “Chuva Negra” de Masuji Ibuse, publicada pela Estação Liberdade.

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar que envolveu a maioria das nações, inclusive todas as grandes potências mundiais, e durou de 1939 a 1945. Na parte final da guerra, os Estados Unidos lançaram, pela primeira vez na história, duas bombas nucleares sobre alvos civis. A primeira bomba atômica americana de urânio “Little Boy” foi lançada às 8h15 da manhã sobre a segunda cidade mais populosa do Japão, Hiroshima, deixando de imediato cerca de 80 mil pessoas mortas e destruindo 69% de seu território. Três dias depois, em 9 de agosto, às 11h02, a segunda bomba atômica de plutônio “Fat Man” caiu sobre Nagasaki. Embora mais poderosa que a primeira, foi menos efetiva por conta das irregularidades do terreno. Mas, mesmo assim, em menos de um segundo matou 35 mil pessoas. Em 2 de setembro do mesmo ano, o governo japonês assinou o acordo de rendição, encerrando a Segunda Guerra Mundial. Dentro dos primeiros dois a quatro meses após os ataques, os efeitos agudos das explosões mataram entre 90 mil a 166 mil pessoas em Hiroshima e 60mil a 80 mil em Nagasaki. Os sobreviventes dos bombardeios são conhecidos como hibakushas, uma palavra japonesa que se traduz literalmente como “pessoas afetadas pela explosão”. Em agosto de 2014, mais de 450 mil hibakushas haviam morrido desde os ataques atômicos, sendo 292.325 em Hiroshima e 165.409 em Nagasaki. Estima-se que cerca de 118 hibakushas vivam no Brasil. O Memorial da Paz em Hiroshima é formado pelo edifício que resistiu à explosão e que também é conhecido com Cúpula Genbaku ou Cúpula da Bomba Atômica. Ao seu lado está o Parque Memorial da Paz que abriga um museu e diversos monumentos em homenagem às vítimas da bomba atômica e onde a chama da paz ficará acesa até que todas as armas nucleares sejam abolidas. Em Nagasaki, também há um local em memória das vítimas formado pelo Parque Memorial da Paz, do Museu da Bomba Atômica e do Pátio da Paz. Todos os anos nas datas e horários das explosões das bombas, os japoneses param suas atividades e fazem um minuto de silêncio em memória das vítimas. E nos memoriais realizam-se cerimônias em homenagem às vítimas, relembrando a tragédia, celebrando a paz e reforçando o desejo de que essa tragédia nunca mais se repita.

 

LIVROS

Hiroshima

John Hersey; tradução de Hildegard Feist.

Companhia das Letras, 2002.
Em português.
ISBN 978-85359022792
[952.04 He]

HIROSHIMA – Grupo Companhia das Letras

Em agosto de 1945, a bomba atômica explodiu sobre a cidade de Hiroshima matando milhares de pessoas e devastando seu território. Naquele dia após o clarão silencioso, uma torre de poeira e fragmentos subiu ao céu e caiu em gotas negras imensas, do tamanho de bolas de gude. O livro traz a reportagem feita um ano depois, reconstituindo o dia da explosão a partir do depoimento de seis sobreviventes. O texto ocupava a edição inteira da revista The New Yorker, uma das mais importantes publicações semanais dos Estados Unidos, alcançando uma grande repercussão. Sua investigação aliava o rigor da informação jornalística à qualidade de um texto literário. Sua narrativa dava rosto à catástrofe da bomba, o horror tinha nome, idade e sexo. Ao optar por um texto simples, sem enfatizar emoções, o autor deixou fluir o relato oral de quem realmente viveu a história.  Quarenta anos mais tarde, voltou a Hiroshima, reencontrou os entrevistados e escreveu o último capítulo da história dos hibakushas, pessoas atingidas pelos efeitos da bomba, completando sua obra. “Hiroshima” permitiu que o mundo tomasse consciência do poder destrutivo das armas nucleares e a terrível implicação de seu uso.

 

Sobre os autores:

John Hersey nasceu em Tientsin, China, em junho de 1914. Filho de missionários, aos 10 anos voltou aos Estados Unidos com a família. Graduou-se na Universidade Yale, fez pós-graduação em Cambridge. Trabalhou como correspondente internacional das revistas Times e Life, e como colaborador do The New Yorker. Recebeu o Prêmio Pulitzer em 1945 pelo livro de ficção “A Bell for Adano”. Faleceu em 1993 na Flórida.

Hildegard Feist é paulistana, formada em letras neolatinas pela Universidade de São Paulo, é autora de adaptações de clássicos ingleses e de paradidáticos. Desde 1987, traduz do inglês e do francês para a editora Companhia das Letras, nas áreas de história contemporânea, história da arte e história das religiões.

John Hersey – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Hildegard Feist – Grupo Companhia das Letras


 

Hiroshima e Nagasaki: testemunho, inscrição e memória das catástrofes

Organização de Paulo Cesar Endo e Cristiane Izumi Nakagawa

Benjamin Editorial, 2015.
Em português.
ISBN 978-85-69430-02-5
[952.04 Hi]

Hiroshima e Nagasaki (benjamineditorial.com.br)

 

O livro tem como origem o evento Hiroshima e Nagasaki em São Paulo: testemunho, inscrição e memória das catástrofes, realizado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo entre os dias 11 e 21 de setembro de 2012. Tem como objetivo discutir os bombardeios atômicos ocorridos em agosto de 1945, abordando aspectos técnicos e historiográficos relacionados à produção e à utilização das armas atômicas, assim como seus desdobramentos políticos, sociais, culturais e subjetivos. Coloca em pauta a importância da preservação da memória da catástrofe atômica de modo a impedir que ela se repita. Além de artigos de intelectuais de diversas áreas do conhecimento, o livro traz testemunhos e desenhos de sobreviventes do bombardeio atômico de Hiroshima como Takashi Morita, Kunihiko Bonkohara, Junko Watanabe e Shigeo  Moritomi. A publicação do livro teve apoio da Japan Foundation.


 

A última mensagem de Hiroshima: o que vi e como sobrevivi à bomba atômica

Takashi Morita

Universo dos Livros, 2017.
Em português.
978-8550301143
[952.04 Mo]

A última mensagem de Hiroshima: O que vi e como sobrevivi à bomba atômica – Universo dos Livros

Agosto de 1945, um belo dia de verão com céu claro sem nuvens. Ninguém poderia prever que neste mês a vida de inúmeros japoneses, e das gerações subsequentes, mudaria para sempre. O sr. Takashi Morita, sobrevivente da bomba atômica lançada sobre a cidade de Hiroshima, viu os horrores e a devastação da explosão e sofreu com os efeitos e as consequências da radiação e com o preconceito aos hibakushas (sobreviventes à bomba atômica). Veio com a família ao Brasil a convite de membros da colônia japonesa que disseram que São Paulo tinha um bom clima e boas oportunidades para viver e trabalhar. Fundou a Associação dos Sobreviventes da Bomba Atômica no Brasil, em julho de 1984, para ajudar na batalha contra o descaso do governo japonês para com os hibakushas que viviam no exterior e para serem reconhecidos e receberem os mesmos benefícios que os residentes no Japão. Com a associação ampliando seu foco com o movimento em prol da paz, mudou o nome para Associação Hibakusha Brasil pela Paz. Continua ainda hoje em sua missão: “Não quero que mais pessoas passem por experiências como a minha. Para isso, divulgarei minha história, a história do que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki. Sei que não sobrevivi ao pior dia da minha vida sem um motivo maior, então honrarei a vida até o fim – a minha e a de todos os que habitam comigo este planeta”.

Sobre o autor:

Takashi Morita nasceu em 1924, em Hiroshima. Foi membro da Kempeitai, temida Polícia Militar do Exército Imperial do Japão. Presenciou situações que marcariam com a destruição tanto o Japão como o mundo, a exemplo do bombardeio a Tóquio, em março de 1945. Imigrou para o Brasil em 1956, trabalhou como relojoeiro e hoje possui uma mercearia na zona sul da capital paulista. Propaga uma forte mensagem de esperança e crença na paz, pautada no combate à guerra e às armas nucleares.

Esse homem escapou de Hiroshima – ISTOÉ Independente (istoe.com.br)


 

No more Hiroshima, Nagasaki

Kazuo Kuroko, Hiroyoshi Shimizu; tradução de James Dorsey.

Nihon Tosho Center, 2005.
Edição bilíngue japonês-inglês.
ISBN 4-8205-1940-9
[952.04 No]

原爆写真 ノーモア ヒロシマ・ナガサキ – 株式会社日本図書センター (nihontosho.co.jp)

Em 2005 dizia-se que haveriam cerca de 30.000 armas nucleares no mundo. Num momento de esquecimento por parte da humanidade da trágica e amedrontadora experiência atômica, a possibilidade de se repetir essa tragédia existe. Este livro relembra os acontecimentos e os sentimentos desta tragédia através de um material cuidadosamente selecionado. São 94 fotos da bomba atômica, 17 desenhos, 6 poemas, registros de entrevistas com hibakushas (sobreviventes à bomba atômica), além de ensaios escritos por cinco personalidades japonesas. O livro foi cuidadosamente pensado para proporcionar uma melhor compreensão dos fatos àqueles que não sabem ou não vivenciaram a guerra e a bomba atômica. Com textos explicativos e fotos legendadas que apresenta os vários ângulos dos bombardeios cria uma “memória da bomba atômica” transmitindo as visões do passado e do presente com o objetivo de não esquecer a história passada. Os autores conceberam esta edição bilíngue para atingir mais pessoas e para que reflitam sobre que tipo de mundo querem para o futuro.

Sobre os autores:

Kazuo Kuroko (黒古一夫) nasceu em 1945, crítico literário e professor na Universidade de Tsukuba. Entre seus muitos trabalhos publicados estão um estudo sobre o ganhador do prêmio Nobel Kenzaburo Oe. Como editor tem trabalhado em compilações e antologias, literatura, fotografias e artes, sempre ligados à bomba atômica.

Hiroyoshi Shimizu (清水博義) nasceu em 1933, editor e escritor freelance. Editou vários livros ilustrados assim como trabalhos históricos e literários. Junto com Kuroko também compilou inúmeros volumes relacionados à bomba atômica.

James Dorsey nasceu em Nova York em 1961. PH.D. em literatura japonesa pelo Departamento de Língua e Literatura Asiática da Universidade de Washington.  Sua pesquisa enfoca as relações de personalidades literárias com a guerra e publicou estudos do crítico Hideo Kobayashi e do escritor Ango Sakaguchi.

 

Sites relacionados:

Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
75 anos depois, os efeitos de Hiroshima ainda são visíveis | Exame
Hiroshima Peace Memorial Museum (hpmmuseum.jp)
NAGASAKI PEACE official website of Nagasaki City
Museu do Memorial da Paz de Hiroshima | Hiroshima Attractions | Viagens Japão | JNTO (japan.travel)
Nagasaki: Memória Atómica – Nagasaki – Japan Travel
Depoimento de um Hibakusha | Curiosidades do Japão (japaoemfoco.com)
Jornal da USP ano XXI n.733
A última mensagem de Hiroshima: O que vi e como sobrevivi à bomba atômica | Amazon.com.br
Amazon.co.jp: 原爆写真 ノーモア ヒロシマ・ナガサキ 【日英2カ国語表記】 : 清水 博義, 黒古 一夫: Japanese Books


 

● SUGESTÃO DE LEITURA 

Às 8h15 da manhã do dia 6 de agosto de 1945 uma bomba atômica atinge Hiroshima. Três dias depois, seria a vez de Nagasaki. Milhares de pessoas morreram imediatamente e muitos dos que escaparam com vida não tiveram um destino menos trágico. A atrocidade histórica e seus reflexos são vistos a partir da experiência desses sobreviventes em Chuva negra, principal obra do escritor japonês Masuji Ibuse.

Passados quase cinco anos da explosão da bomba atômica, o casal Shigematsu Shizuma e sua esposa Shigeko, ambos com os sintomas da exposição à radioatividade, tentam arranjar um casamento para a sobrinha Yasuko. Mas isso é dificultado pelos boatos de que ela também estaria contaminada. Para provar que os comentários e os temores são infundados Shigematsu decide transcrever o seu diário, o da sua esposa e o da sua sobrinha para mostrar a diferença do que vivenciaram na época. Porém, os escritos provam que a jovem esteve sob a chuva negra radioativa a caminho de Hiroshima. Como proceder sobre essa informação? Deveria ser omitida?

Nesse romance, vencedor do Noma, um dos maiores prêmios literários do Japão, a nuvem em forma de cogumelo, formada logo após a explosão, não é vista do alto como na imagem tantas vezes repetida, mas da perspectiva daqueles que estão sob seus efeitos. A narrativa coloca o leitor diante do inferno que vivenciaram e da tentativa de retomada do cotidiano depois da catástrofe. O autor baseou-se em diários e testemunhos para construir o romance, resultando em uma prosa sóbria e sem sentimentalismo, mesmo quando coloca o leitor diante de cenas como a de uma criança faminta que tenta agarrar o seio de um cadáver, ou de um pai que, para salvar-se, larga para trás o filho clamando por ajuda.

Chuva negra também se tornou um marco do cinema japonês. Foi adaptado para o cinema pelo diretor Shohei Imamura, em 1989 e recebeu menção especial no Festival de Cannes em 1990.

Sobre os autores:

Masuji Ibuse nasceu em Kamo, na província de Hiroshima em 1898. Ingressou na Universidade de Waseda, em Tóquio para estudar literatura francesa. A partir de 1922, passou a dedicar-se à ficção. Publicou novelas, contos e romances marcados por uma linguagem cheia de poesia e, muitas vezes, humor, tendo como principal foco a vida de homens comuns. Entre suas obras estão Koi [A carpa], Sanshouo [A salamandra], Sazana Gunki [Crônica das pequenas ondas], Ekimae Ryokan [O hotel da estação] e Chimpindo Shujin [O antiquário]. Morreu em Tóquio em 1993.

Jefferson José Teixeira nasceu no Rio de Janeiro em 1958. É economista, bancário, tradutor juramentado e tradutor literário. Morou nos Estados Unidos de 2001 a 2004 e no Japão por 11 anos. Tem o japonês e o português como línguas nativas e domina o inglês e o francês. Mestre em caligrafia chinesa, lançou-se na atividade de tradução nos anos 80 do século XX. Destacou-se como tradutor literário com a obra A Chave (Kagi) de Junichiro Tanizaki. Traduziu outras obras com Miso Soup (In The Miso Soup) de Ryu Murakami, Entrelaçadas (Hana no Kusari) de Kane Minato entre outras.

 

Ficha técnica:

Chuva negra
(Kuroi ame/ 黒い雨)

Masuji Ibuse (井伏鱒二); tradução de Jefferson José Teixeira.

Estação Liberdade, 2011.
Em português.
ISBN 978-85-7448-196-8
[895.63 Ib]

Chuva Negra (estacaoliberdade.com.br)
CHUVA NEGRA – 1ªED.(2011) – Masuji Ibuse – Livro (travessa.com.br)
Chuva Negra na lente de Shohei Imamura – Jornal Nippak (jnippak.com.br)
Ibuse, Masuji (estacaoliberdade.com.br)