DESTAQUES DA BIBLIOTECA – Junho/2021

No mês de junho comemoramos 113 anos da imigração japonesa no Brasil, e aproveitando esse fato destacaremos alguns livros do nosso acervo que trazem esse tema, seja em forma de narrativa biográfica, seja em forma de romances e contos.

Nossa sugestão de leitura é um romance nipo-brasileiro que aborda o tema da imigração tanto para o Brasil como para o Japão.

A imigração japonesa no Brasil teve seu início oficial em 18 de junho de 1908 com a chegada do navio japonês Kasato Maru, que havia partido do porto de Kobe com 781 imigrantes, ao porto de Santos e em 1910 chegava o segundo grupo de imigrantes, mais de 906 trabalhadores, no navio Ryojun Maru. Todos foram direcionados às fazendas de café paulistas. A maior parte dos imigrantes tinha a pretensão de enriquecer no Brasil e retornar para o Japão após poucos anos, o que não aconteceu. Muitos desistiram de permanecer nelas devido às dificuldades de adaptação proporcionadas pelo não entendimento do idioma, pela falta de infraestrutura e pela diferença de costumes. Entretanto, através de um sistema chamado “lavoura de parceria” em contrato com um proprietário de terras, muitos japoneses conseguiram economizar e comprar seu primeiro pedaço de terra. Em 1914, o governo de São Paulo interrompeu a contratação de imigrantes, estima-se que a população japonesa no Brasil era de 10 mil pessoas. Em 2008, só o estado de São Paulo somava 1,3 milhão de nikkeis (japoneses e seus descendentes) e no país todo, eram 2 milhões. A cultura japonesa já está integrada ao cotidiano da maioria dos brasileiros.

https://www.ndl.go.jp/brasil/pt/greetings.html

http://www.museudaimigracao.org.br/

https://www.bunkyo.org.br/br/museu-historico/

 

LIVROS

 

Viajantes do Sol Nascente: histórias dos imigrantes japoneses
Jhony Arai
Editora Garçoni, 2003.
Em português.
ISBN 85-89996-06-9
[325.252 Ar]

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Os pioneiros imigrantes japoneses vieram ao Brasil com a esperança de chegar em uma terra promissora, que compensava a tristeza de deixar para trás a família, as origens, os costumes e as tradições de uma cultura milenar.

As vidas das 15 pessoas retratadas neste livro seguem uma linha do tempo que se inicia no dia 18 de junho de 1908, quando o navio Kasato Maru aportou no porto de Santos com as primeiras famílias de imigrantes japoneses até os dias atuais com seus descendentes.  Através de depoimentos emocionantes, o livro mostra o caminho longo e árduo que eles percorreram desde o início difícil nas fazendas de café com a dureza da colheita, na moradia precária, na quase comunicação impossível pelos idiomas tão diferentes e nos costumes opostos em tudo. Seguindo pela Segunda Guerra Mundial onde o governo brasileiro endureceu as sanções contra os japoneses que ficaram proibidos de viajar sem salvo-conduto, participar de reuniões e falar em japonês publicamente. O surgimento de organizações terroristas que não aceitavam a derrota do Japão na guerra, a desistência do sonho de voltar à terra natal e a resolução de morar definitivamente no Brasil. Com a recuperação econômica do Japão, passou-se a recrutar mão-de-obra estrangeira para executar serviços pesados que os nativos não aceitavam fazer. Então em 1990 teve início oficialmente o fenômeno decasségui, com a entrada maciça de descendentes com o mesmo sonho dos primeiros imigrantes que chegaram ao Brasil, ficar pouco tempo, juntar dinheiro e retornar à terra natal.

Sobre o autor:

Jhony Arai é jornalista, nasceu em Biritiba Mirim, São Paulo, em 1973. Na época era editor-chefe da revista Made in Japan, sobre cultura japonesa no Brasil, e do Jornal tudo Bem, direcionado aos brasileiros que moram no Japão. Durante dois anos morou em Tóquio, onde trabalhou como repórter da revista e do jornal.


 

Retratos Japoneses no Brasil: literatura mestiça
Organização de Marília Kubota.
Annablume, 2010.
Em português.
ISBN 978-85-63141-12-5
[869.3 Re]

Retratos Japoneses No Brasil | Amazon.com.br

 

O projeto do livro foi inspirado na série de reportagens “Retratos Japoneses: Crônicas da Vida Pública e Privada”, escrita pelo americano Donald Ritchie. É uma amostra da literatura feita pelos nikkeis, imigrantes japoneses e seus descendentes que nasceram fora do Japão, carregadas das experiências da imigração e da descendência. O tema que une estes contos e crônicas é o amor em suas variadas formas. A forte afeição por outra pessoa, afeição nascida dos laços de consanguinidade ou das relações sociais. Memória, ficção, tristeza, riso, ternura, tudo misturado. São dez autores diferentes em muitos aspectos (idade, gênero, jeito de pensar o mundo), reunidos aqui não só pela contingência da imigração, mas também pela contingência da imaginação literária.

Adalgisa Naraoka e Tereza Yamashita nos mostram que o universo doméstico, a vida conjugal, as reuniões de família, os filhos e os vizinhos, apesar de parecer rotineiro e sem atrativos, sempre guarda momentos de grande delicadeza. Com muito bom humor, brincando com as palavras e os preconceitos, Alexandre Inagaki e Itiro Takahashi denunciam a crueldade disfarçada de ternura e afeto, que há em toda história de amor, principalmente, nas da juventude.  Gabriela Kimura e Wilson Sagae viajam no tempo para nos revelar as dificuldades que certas crianças têm de enfrentar quando começam a desabrochar para a maturidade. Marília Kubota e Miriam Lie tratam das arestas e das farpas do choque de gerações, do diálogo inevitavelmente áspero entre os hábitos e os costumes do passado, rígidos e opressores, e os da atualidade, mais liberais. Ricardo Miyake e Simone Toji comparecem com a mistura perfeita de melancolia e lirismo ao narrarem as experiências de pessoas pouco à vontade no mundo, na comunidade em que vivem, e no próprio corpo.

Foi anexado um glossário com termos em japonês para a perfeita compreensão das narrativas.


 

Nihonjin
Oscar Nakasato
Benvirá, 2011.
Em português.
ISBN 978-85-02-13108-8
[869.3 Na]

Nihonjin | Amazon.com.br

 

É uma história particular que mostra a origem multicultural do Brasil em tempo e lugares ainda poucos explorados na literatura brasileira. É também um romance universal, em que até o mais duro ser humano se dobra às mudanças imperiosas do lugar, do tempo e do coração. Hideo Inabata é um japonês orgulhoso de sua nacionalidade, que chega ao Brasil na segunda década do século XX com o objetivo de enriquecer e cumprir a missão sagrada de levar recursos ao Japão, conforme orientação do imperador aos seus súditos. O trabalho árduo no campo, a difícil adaptação ao Brasil, a morte da primeira esposa e os conflitos com os filhos, Haruo e Sumie, são um teste para a inflexibilidade do nihonjin (japonês). O narrador, neto do protagonista e filho de Sumie, empresta voz e visão contemporânea à transformação do avô e do seu sonho de voltar rico para casa.

Ganhador do 1º Prêmio Benvirá de Literatura em 2010 e do Prêmio Jabuti, na categoria Romance, em 2012.

“Este romance é, antes de tudo, uma competente reconstrução histórica da imigração japonesa, tema pouco presente em nossa literatura. Sua força literária está não apenas na linguagem direta e sem firulas, nos personagens e nos conflitos marcantes, mas também no poder de comover o leitor. Independente de nossa origem étnica, o romance de Oscar Nakasato emocionou a todos, que se identificaram intensamente com os personagens e os conflitos narrados.”. (Comissão julgadora do 1º Prêmio Benvirá de Literatura)

Sobre o autor:

Oscar Nakasato é paranaense, neto de imigrantes japoneses. Mestre em Teoria da Literatura, em Literatura Comparada e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual Paulista. Em 1999, foi premiado no Festival Universitário de Literatura, promovido pela Xerox do Brasil e pela Editora Cone Sul, com os contos “Alô” e “Olhos de Peri”. Em 2003, venceu o Concurso Literário da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, Prêmio Especial Paraná, com o conto “Menino na árvore”.


 

Meu avô japonês
Juliana de Faria; ilustrações de Fabiana Shizue.
Panda Books, 2009.
Em português.
ISBN 978-85-88948-78-5
[869.39282 Fa]

Meu avô japonês – Panda Books

 

“Os imigrantes que chegaram ao Brasil trouxeram na mala não apenas roupas e saudades da terra natal, mas também muito da cultura de seu país. Ao se estabelecerem aqui, nos ensinaram seus costumes e hábitos e nos fizeram compreender e respeitar suas tradições” (extraído da contracapa do livro).

A personagem deste livro infanto-juvenil é Isabel Mai, uma menina alegre e neta de imigrantes japoneses. No seu aniversário de dez anos ganha uma agenda eletrônica e passa a usá-lo como diário. Nas suas anotações ela retrata o seu cotidiano com muitos aspectos da cultura e dos costumes japoneses, como os rituais e celebrações típicos do Japão, além das históricas contadas por seu avô. E com essas anotações ela conseguiu entender e celebrar sua vida “dupla”, de ser brasileira com descendência japonesa, e espera que sirvam de inspiração para as próximas gerações. Na parte final do livro há mais trechos de histórias e tradições da cultura japonesa

Sobre o autor:

Juliana de Faria nasceu na cidade de São Paulo. Estudou jornalismo na PUC-SP. Trabalhou nas redações do Jornal da Tarde e da revista Veja São Paulo. Em 2009, tornou-se mestra em Ásia Oriental pela Universidade de Salamanca, na Espanha, onde se apaixonou pela literatura japonesa.

Fabiana Shizue nasceu em São Paulo, e graduou-se em Design Gráfico pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Tem seus desenhos aplicados em catálogos, revistas, sites, cadernos e estampas. Participou de exposições em São Paulo e na Itália e do XVIII Catálogo de Ilustradores no México.


 

Vovó veio do Japão
Janaina Tokitaka, Mika Takahashi, Raquel Matsushita, Talita Nozomi
Companhia das Letrinhas, 2018.
Em português.
ISBN 978-85-7406-828-2
[869.39282 To]

VOVÓ VEIO DO JAPÃO – – Grupo Companhia das Letras

 

Este livro infanto-juvenil traz quatro histórias sobre quatro meninas que se divertem com suas avós que nasceram no Japão e sabem como agradar suas netinhas com brincadeiras, histórias e deliciosos quitutes. A comida serviu como um fio condutor unindo todas as narrativas.

As autoras resolveram dedicar cada história a cada uma das quatro estações do ano porque no Japão costuma-se celebrar cada momento com festas e comidas típicas da época. No Brasil é mais difícil de acontecer porque as estações são mais misturadas como suas identidades formadas por uma combinação de culturas. Em cada uma das narrativas é possível conhecer um pouco da cultura japonesa, além de aprender pratos japoneses, cujas receitas estão no final do livro, e sentir que o outro lado do mundo está mais perto do que se imagina.

Sobre o autor:

Janaina Tokitaka começou a carreira de escritora em 2010 com o livro ilustrado “Tem um monstro no meu jardim”. Desde então escreveu vinte livros para o público infantil e juvenil. Os livros “Escamas” e “Nanquim” receberam o Selo Altamente Recomendável pela FNLIJ (Fundação Nacional de Literatura Infantil e Juvenil). Foi selecionada para o workshop BIB-Unesco 2016 da Bienal Internacional de Bratslava.

Mika Takahashi é ilustradora desde 2011, já trabalhou com animação, publicidade, histórias em quadrinhos e livros. Recebeu o prêmio HQ Mix na categoria Novo Talento pela HQ “Além dos Trilhos”, participou das exposições coletivas “Contínua” (Clube dos Criadores, 2016), “Donas da Rua” (ONU e Maurício de Sousa, 2017) e da exposição solo “Peças de um Quebra-Cabeça” (Galeria Hipotética, 2017).

Raquel Matsushita nasceu na cidade de São Paulo, além de escrever, trabalha com design gráfico de livros. Tem um escritório chamado Entrelinha Design desde 2001. Escreveu os livros “A bola do vizinho” que foi finalista no prêmio João de Barro, “Não, sim, talvez”, finalista na categoria livro digital no prêmio Jabuti, entre outros. É coautora do livro Alfabeto escalafobético, com Cláudio Fragata que ganhou o prêmio Jabuti.

Talita Nozomi tem como inspiração inicial para seus livros as recordações que guardou das férias que passou com sua avó no Paraná. Entre eles, destacam-se “Do mundo ao fundo” (2012), se eu fosse uma árvore (2013), selecionado para o Itaú Criança 2013 e para o Catálogo Bolonha FNLIJ (2014). Mais recentemente participou da exposição Ilustração Portuguesa 2017, da Exposição de Ilustradores da Feira do Livro Infantil de Bolonha e do Catálogo 2017 Illustrators Annual. As ilustrações e histórias deste livro foram desenvolvidas durante o mestrado em desenho e técnicas de impressão na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, concluído em 2017.

 

Sites relacionados:

História da imigração japonesa no Brasil (al.sp.gov.br)
Imigração Japonesa no Brasil – Toda Matéria (todamateria.com.br)
Imigração japonesa no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
5 curiosidades sobre a imigração japonesa no Brasil – Revista Galileu | História (globo.com)


 

● SUGESTÃO DE LEITURA 

Seguindo o tema da imigração japonesa, nossa indicação de leitura é um romance nikkei, “Um presente que veio de longe”, escrito por Cristina Sato e ilustrado por Lúcia Hiratsuka.

A história gira em torno de um rapaz, Sérgio, fruto de um relacionamento entre uma descendente de japoneses e um brasileiro. A mãe deixa o bebê com quatro meses, na casa dos pais e desaparece. Sérgio era uma criança tímida e pela sua condição de mestiço, nunca foi considerado um membro efetivo da família. Ele adorava o Ano Novo porque era a única época em que o seu avô abria seu refúgio onde, aos seus olhos de criança, estava cheio de tesouros. Tinha um fascínio pelo bisavô, Atsushi Yamamoto, que veio como imigrante ao Brasil e cuja história era contada pelo avô. Com a morte dos avós foi morar com a tia até ela ir trabalhar no Japão. Sérgio ainda estava indeciso sobre o que fazer de sua vida, embora estivesse cursando a faculdade de direito, não achava que era o que queria fazer. Decidiu ir ao Japão para trabalhar como decasségui e tentar cumprir uma promessa feita ao seu avô, descobrir a história de um presente sem identificação trazido pelo bisavô.

O livro traz os relatos da vida de Sérgio como decasségui no Japão, entrecortados por trechos do diário de seu bisavô, Atsushi Yamamoto, desde sua vida antes da partida para o Brasil e sua trajetória nesse país, possibilitando fazer uma comparação entre o passado e o presente destes dois países no processo imigratório.

Sobre as autoras:

Cristina Sato é paulistana e sansei, isto é, membro da terceira geração de uma família de imigrantes japoneses. Atuou como jornalista na imprensa nipo-brasileira e morou oito anos no Japão, vivenciando as diferenças entre o moderno Japão e o país do sol nascente idealizado pelos imigrantes no Brasil. Doutoranda na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) na época, pesquisando a trajetória de vida dos japoneses no Brasil. Gosta muito de ouvir aqueles que constroem anonimamente histórias de bravura e heroísmo.

Lúcia Hiratsuka nasceu em Duartina, interior de São Paulo. Escritora e ilustradora, tem diversas obras publicadas para crianças. Para este livro usou a técnica de grafite e aquarela. Mais informações sobre a autora veja o “Destaques da biblioteca” de outubro de 2020.

 

Ficha técnica:

Um presente que veio de longe
Cristina Sato; ilustrações de Lúcia Hiratsuka
Editora Salesiana, 2008.
Em português.
[869.3 Sa]

Um Presente Que Veio De Longe | Amazon.com.br