DESTAQUES DA BIBLIOTECA – Maio/2020

Neste mês apresentamos 3 livros, um da autora Yoko Tawada, um sobre a cidade de Tokyo na literatura e um sobre o efeito Rashomon no cinema. Além dos livros apresentamos também uma mangá ambientado no Japão Feudal, e dois audiovisuais, um DVD com filmes de samurais e um CD de música popular japonesa.

 

● LIVRO

ÜBERSEEZUNGER: retrato de uma língua e outras criações
Yoko Tawada; tradução de Marianna Ilgenfritz Daudt e Gerson Roberto Neumann
Editora Class, 2019. ISBN 978-85-94187-72-7. Em português [834 Ta/ t.7898 ]

Überseezunger significa “traduções”, em alemão. Desmembrado em partes temos Übersee que pode ser traduzido com “além-mar”; Zungen traz o significado de “línguas”; e Seezunge é a tradução de linguado, peixe que lembra o formato de língua. Dessa forma, o título evoca os aspectos relativos à língua e à tradução e os associa ao órgão responsável pela articulação da fala. A partir de tais leituras, pode-se observar a relação da tradução com a linguagem e com o corpo, a metáfora do viajar por entre continentes, do assumir metafisicamente a forma e a essência de ser uma língua – do sentir-se como língua em constante transformação.

A divisão dos capítulos em “Línguas euroasiáticas”, “Línguas sul-africanas” e “Línguas norte-americanas” contemplam os eixos leste-oeste e norte-sul, e cada capítulo apresenta um mapa repleto de símbolos e letras. Destacam-se, também, as frequentes ligações com outras formas de manifestação artística além do texto, como com a música, o teatro e o cinema. Para a escritora, o jogo da tradução é um processo que não acontece apenas entre idiomas: toda ação, todo gesto promove traduções e, é claro, a transformação da vida em linguagem, da linguagem em fala e escrita e, principalmente, da linguagem em arte.

Sobre a autora:
Yoko Tawada (多和田洋子) nasceu em Tóquio, em 1960, mudou-se para Hamburgo aos 22 anos e, desde 2006, vive em Berlim. Autora de obras escritas em japonês e alemão como contos, romances, ensaios, poemas e peças teatrais. Seus trabalhos são reconhecidos mundialmente nos círculos literários e acadêmicos pelo seu valor literário e pela suas características multilíngue e interculturais. Dentre os inúmeros prêmios recebidos podemos destacar o Prêmio Kleist, o Prêmio Adelbert von Chamisso, o Prêmio Akutagawa, o Prêmio Tanizaki e o Prêmio Fundação Japão, em 2018. Em outubro de 2019, a autora veio ao Brasil lançar seu livro, em português, Memórias de um urso polar (editora Todavia) onde realizou sessões de autógrafos e bate-papos com os tradutores, pesquisadores e estudantes universitários.

 

THE BOOK OF TOKYO: a city in short fiction
Edited by Michael Emmerich, Jim Hinks, Masashi Matsuie
Comma Press, 2015. ISBN 978-1-905583577. Em inglês [895.6301 Bo/ t.5628]

O livro é uma antologia de ficção tendo como tema central a cidade de Tóquio, do ponto de vista de 10 escritores japoneses conceituados/contemporâneos, seis mulheres e quatro homens. Suas estórias mostram as diversas facetas de Tóquio: uma cidade de escala desconcertante, uma modernidade inspiradora, com regras peculiares, segredos desconhecidos, e, até certo ponto, perigosos.  Seus personagens observam seus moradores de longe, hesitantes em sair de sua rotina diária para interagir com eles. O que se mostra impossível numa metrópole em constante mutação onde os encontros aleatórios são inevitáveis como retratado em “Mambo” de Hitomi Kanehara, onde duas pessoas desconhecidas decidem dividir um taxi para ir a ao “Seaside Park”, e descobrem que há vários com o mesmo nome, e não conseguem decidir para qual ir. Algumas estórias estão mais conectadas com o meio ambiente, explicitamente nomeada como West Ikebukuro em “”The Owl’s Estate” de Toshiyuki Horie e em “Na Elevator on Sunday” de Shuichi Yoshida; ou num certo tipo de lugar, como o subúrbio em “The Hut on the Roof” de Hiromi Kawakami. Ao ler o livro nem sempre será capaz de se localizar no mapa, mas poderá sentir o grande prazer de estar em Tóquio, o sentido de desorientação em contraste ao sentido de enraizamento, de estar em casa. Você pode viver em Tóquio a sua vida toda e sentir que está em constante movimento.

 

RASHOMON EFFECTS: Kurosawa, Rashomon and their legacies
Edited by Blair Davis, Robert Anderson, Jair Walls
Routledge, 2016. ISBN 978-1-138-82709-7. Em inglês [791.4372 Ra/ t.7176]

Após a morte de Akira Kurosawa, em 1998, começou um processo de reflexão sobre seu trabalho como um todo e sobre seu legado ao cinema mundial. O filme Rashomon, de 1950, premiado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza (1951) e com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (1952) fez com que o ocidente “descobrisse” o cinema japonês  tornando-se um dos mais conhecidos filmes japoneses já realizados, e continua a ser discutido e imitado mesmo após 60 anos de sua primeira projeção. Este livro, através de artigos escritos por vários acadêmicos e estudiosos, aborda questões relacionadas ao mundo do filme e ao efeito Rashomon, um termo em inglês para as diferentes interpretações de um mesmo evento dramático por diferentes testemunhas oculares. Analisa seus impactos culturais e estéticos, assim como os vários legados do diretor tanto para o lado cinematográfico e artístico, como para o lado cognitivo e cultural, com o filme e suas idéias tendo sido aplicados como um grande fenômeno social e cultural em vários contextos institucionais.

Traz uma cronologia e uma bibliografia com fontes essenciais sobre a história cinematográfica de Kurosawa.

 


● MANGÁ

MUGEN NO JUNIN (無限の住人)
Blade – a lâmina do samurai

Hiroaki Samura (沙村広明)
Kodansha, 2016-2017. Em japonês [J726.1 Sa]

Mugen no junin é ambientado no Japão Feudal, na metade da era Tokugawa, 2º ano da era Tenmei (1782). Manji é um samurai que foi contratado por um senhor feudal para matar todos aqueles que não pagassem os impostos. Ao perceber que estava matando pessoas inocentes, rebela-se contra seu contratante, matando-o e a todos os seus 99 guarda-costas. Muito ferido pela batalha é cuidado por uma monja que lhe dá um “elixir da imortalidade”.  Porém, não querendo essa solução, faz um acordo de matar mil homens maus para recuperar sua mortalidade. Em suas andanças encontra Rin, uma jovem garota que procura vingança pela morte de seus pais pelos membros da escola de espadachim “Ittoryu”. Assim tem início a jornada de Manji e Rin em busca de seus objetivos na esperança de encontrar algum tipo de paz.

Em 1997, o mangá ganhou o Prêmio de Excelência dado por Japan Media Arts Festival da Agency for Cultural Affair do Japão, e em 2000, a edição norte-americana ganhou o Prêmio Eisner pela melhor edição de material estrangeiro. O mangá foi publicado em vários países como EUA, França, Espanha, Alemanha, Itália e Brasil. Aqui começou a ser publicado pela Conrad Editora em 2004, e em 2015 a Editora JBC anunciou o lançamento em formato BIG (2 volumes em 1).

A biblioteca da Fundação Japão em São Paulo também possui a edição brasileira.

Sobre o autor:
Hiroaki Samura nasceu em 1970 na província de Chiba. Sempre quis ser mangaká. Mas, ao contrário de muitos outros, iniciou na escola de artes e depois mudou para artes clássicas. Não gosta de pintura a óleo, preferindo a pintura em preto e branco. É famoso por usar apenas nanquim e lápis para o acabamento de suas obras. Nunca completou o curso, pois foi escolhido pela revista Afternoon da Editora Kodansha para escrever Blade, antes de se formar. Possui outros trabalhos como Ohikoshi, e os mangás “one shot” (de apenas uma edição) Emerald e Sakkabasu no yoru. Também fez várias ilustrações para revistas e um livro EroGuro, compilação dos trabalhos já criados.

 


● AUDIOVISUAIS

CINEMA SAMURAI (DVD)
Versátil Digital
Áudio japonês; legendas em português.
NTSC P&B [DVD.f 27]

São uma série de digistacks contendo cada um 3 DVDs que reúnem 6 clássicos do gênero Chanbara, em versões restauradas, dirigidos por cineastas consagrados como Kenji Mizoguchi, Hideo Gosha, Akira Kurosawa entre outros.

O filme samurai é um importante gênero no cinema japonês, estando presente nas películas do Japão durante toda a sua história cinematográfica. Teve seu início no final da década de 1920, mas com a ocupação americana após a Segunda Guerra Mundial sofreram restrições por promoverem valores feudais e com o final da ocupação em 1952, o filme samurai passou a representar mais de um terço da produção anual da indústria local. No Japão, esse gênero é conhecido como Jidaigeki, que significa literalmente dramas de época, ou pelo seu subgênero filme Chanbara, da contração onomatopéica chan-chan-bara-bara (som das lâminas de corte), que significa luta de espadas ao estilo samurai, e na maioria das vezes, retratam o período Edo da história japonesa (1603-1868).

A biblioteca da Fundação Japão em São Paulo possui os volumes 1, 2, 3, 5 e 6.

 

ZARD Forever Best 25th Anniversary (CD)
Being, 2016. 4 discos. Em japonês [CDA P-188]

É um CD Box com 4 discos lançado em homenagem aos 25 anos da formação do grupo, com seus sucessos mais significativos, como o seu primeiro single “Good-by My Loneliness”(1991) e seu maior sucesso Makenaide (負けないで) (1993), e um photobook “Forever Best moment ~ZARD Photobook~”.

Zard foi um grupo pop japonês formado em 1991 com cinco integrantes, que foram se dispersando com o tempo, restando somente a vocalista Izumi Sakai como membro constante. O grupo fez muito sucesso no Japão, ficando sempre entre os 10 mais vendidos pelo Oricon ranking. Até hoje lançaram 45 singles, que venderam mais de 17 milhões de cópias, e 21 álbuns, com mais de 19 milhões de cópias vendidas. Zard teve muitas músicas em trilhas sonoras de novelas japoneses e em animes. Podemos citar o primeiro single “Good-bye My Loneliness” que foi tema da novela Kekkon no riso to genjitsu (結婚の理想と現実), o single “My Friend” foi o tema final do anime Slam Dunk e “Don’t You See!’tema de encerramento de Dragon Ball GT. Sakai também escreveu para outros grupos musicais e gostava de escrever poesia. Em 2006 foi diagnosticada com câncer cervical e em 2007 faleceu devido a uma queda na escada do hospital onde fazia o tratamento. Sua participação no grupo terminou, mas após sua morte foram realizados vários tributos, sejam como shows ou na mídia.