Toward the Abe Statement on 70th Anniversary of the End of World War II

AS QUESTÕES-CHAVE QUE ADVEM DO SÉCULO XX E INFLUENCIAM OS DISCURSOS OFICIAIS JAPONESES NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

O livro Toward the Abe Statement on the 70th Anniversary of the End of World War II: Lessons From the 20th Century and a Vision for the 21st Century for Japan transcreve o conteúdo discutido nas sete reuniões que ocorreram entre fevereiro e junho de 2015, evento esse intitulado de Painel consultivo sobre a história do século XX e sobre o papel do Japão e da ordem mundial no século XXI. Essa cerimônia foi realizada com o objetivo de explorar as questões-chave contemporâneas a serem consideradas pelo então Primeiro-Ministro, Shinzo Abe, ao formular suas futuras declarações oficiais, além de ser uma excelente introdução para compreender quais são os litígios políticos que o Japão terá que lidar nas próximas décadas.

Participaram desse evento membros oficiais do governo japonês, bem como integrantes de várias gerações e campos de atuação diversos, incluindo acadêmicos, jornalistas, empresários, entre outros; cujos tópicos de discussão situaram-se em cinco debates, que serão desenvolvidos a seguir. Além disso, ao final de cada discussão, há a reprodução de várias perguntas realizadas em cada debate, em que podem ser constatadas as variadas questões relacionadas aos rumos que o país deve tomar, especialmente nos assuntos mais conflituosos, como a questão do artigo 9º da Constituição Pacifista.

 

O JAPÃO DO SÉCULO XX E SUAS EXPERIÊNCIAS PARA O FUTURO

Inicialmente, as discussões se concentram nos aprendizados adquiridos pelo Japão após o conturbado século XX, uma era marcada pelo auge das práticas colonizadoras provindas da Europa. O presidente da Universidade Internacional do Japão, Shinichi Kitaoka, aponta que a vitória conquistada pelo Japão na guerra sino-japonesa, torna-o igualmente um Estado colonizador, graças às ideias de autarquia e do Lebensraum emergidas no último século.

Embora muitos países asiáticos tenham se tornado independentes por meio das guerras realizadas pelo Japão entre 1930-1945, Kitaoka frisa que o país não estava interessado em libertá-los das influências externas (ocidente), mas que o expansionismo japonês se deu por vários outros fatores: foi aspirado por vários setores da sociedade, o posto de Primeiro-Ministro era uma instituição frágil a época, além disso, o Japão não possuía adequada liberdade de expressão. Conclui-se que a lição assimilada, após o século passado, é a necessidade da manutenção de um sistema político e econômico liberal para um futuro próspero e de paz ao Japão.

Já no segundo debate, as discussões se concentram sobre o comprometimento do país com a paz, o desenvolvimento econômico e as contribuições internacionais do Japão pós-guerra. Primeiramente, o então presidente da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), Akihiko Tanaka, aponta que o Japão pós-guerra cursou um caminho que demonstra arrependimento com as ações praticadas pelo Japão Imperial, graças as reparações de guerra e cooperações internacionais (ODA), mas, sobretudo, que não há nenhum caso de ação militar agressiva nesses setenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Ainda sobre esse tema, o presidente da Okamoto Associates Inc., Yukio Okamoto, disserta sobre os arranjos de segurança nos setenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Segundo o orador, as Forças de Autodefesa do Japão necessitam, atualmente, de fortalecimento substancial, graças as alterações regionais. Também discorre sobre o Acordo de Segurança entre Japão e Estados Unidos (EUA) e a percepção de dissuasão que cria às outras nações, sendo, então, imperativo manter relações próximas aos EUA para exibir consistência defensiva às nações vizinhas.

Com relação ao terceiro e quarto debates, há argumentações sobre os setenta anos de reconciliação com os Estados Unidos, Austrália, Europa, e Ásia. Fumiaki Kubo, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Tóquio, concentra-se na reconciliação realizada com os EUA, a qual demandou paciência e compromisso dos dois lados, tanto na esfera política quanto na pública, uma vez que são um raro exemplo de oponentes que se tornaram aliados. Vários fatores contribuíram para essa aliança: desmilitarização e democratização do Japão, Guerra Fria, Tratado de Segurança entre Japão e EUA e a Conferência entre EUA e Japão para intercâmbio educacional e cultural (CULCON).

Com relação as reconciliações do Japão com os países asiáticos, Shin Kawashima, graduado na Escola de Artes e Ciências da Universidade de Tóquio, aborda as relações com China e Taiwan. Num primeiro momento, a cúpula chinesa via a responsabilidade da guerra realizada pelo Japão como “dualismo militar-civil”, cuja culpa recaía sobre um seleto grupo de militares e não sobre os civis. Entretanto, após a queda dos países socialistas, viu-se a necessidade de fazer uma educação patriótica, na qual a vitória contra o Japão se torna um componente importante apresentado nos livros didáticos das escolas chinesas, contribuindo para que haja uma opinião negativa da população chinesa em relação ao Japão; o que não acontece com Taiwan, tendo em vista que é um país democrático com livre circulação de ideias.

Shunji Horaiwa, professor da Universidade Kwansei Gakuin, dedica-se aos esforços do Japão em reconciliar-se com a Coreia do Sul. Ainda que a normalização das relações diplomáticas entre os países seja de 1965, há um dilema entre razão e emoção nessa relação ao longo dos anos. Segundo o professor, durante a ditadura militar de Chung-hee, imperou-se a racionalidade, uma vez que possuía autoritarismo para suprimir sentimentos públicos; no entanto, esse cenário muda com o fim da Guerra Fria e a democratização conquistada pela Coreia do Sul que, embora trouxesse aspectos positivos como o crescimento da influência da cultura pop coreana no Japão, a cúpula administrativa sul-coreana tem tendência em responder ativamente ao sentimento da população contra o Japão, utilizando essa comoção como uma ferramenta política.

Por fim, Takashi Shiraishi, presidente do Instituto Nacional de Pós-Graduação para Estudos Políticos, discorre sobre a história da Ásia, com ênfase no Sudoeste Asiático. Nessa região, a política de reconciliação com o Japão é considerada bem-sucedida, pois embora seja vívida a memória da colonização japonesa, a história narrada para esses países é a de que o país não desempenhou o papel principal, diferença crucial entre o entendimento que China e Coreia do Sul fazem sobre o mesmo assunto.

Finalmente, no quinto debate, centrou-se nas medidas específicas que o Japão deve tomar na ocasião do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, sendo que ambas as discussões se concentraram no revisionismo histórico, assunto atual e delicado aos japoneses e outros asiáticos. O professor da Universidade de Tóquio e da Universidade Meiji, Masayuki Yamauchi, expõe que, atualmente, para a Coreia do Sul e a China há uma divisão clara entre o Japão como perpetrador e ambos como vítima, não reconhecendo nesses setenta anos os esforços do Japão pós-guerra como amante da paz.

Masashi Hanada, também professor da Universidade de Tóquio, contribui ainda mais sobre o reconhecimento da história, expondo que esta não se limita ao conhecimento empírico sobre o assunto, mas que existem vários outros elementos não tradicionais como: experiências e crenças das pessoas e grupos; valores; educação; bem como novelas e televisão, nos quais as visões e pontos de vista sobre o passado podem se alterar.

Sendo assim, não há um reconhecimento da história absoluto e universal, no entanto, isso não é verdade quando se analisa esse reconhecimento por parte do Estado soberano. De acordo com o professor, é necessário buscar a reconciliação com os outros países de todas as formas possíveis: usando da avançada educação japonesa técnica industrial e de infraestrutura, da cultura popular contemporânea para promover entendimento e compreensão sobre o país, do intercâmbio entre estudantes, entre outros.

 

CONCLUSÃO

O livro discorre sobre a superação e os aprendizados adquiridos pelo Japão após a era de extremos que foi o século XX, uma vez que passou de Japão Imperial desestabilizador do sistema internacional para um Estado democrático, liberal e amante da paz que abdicou do seu direito a guerra.

Entretanto, se com países ocidentais e do sudoeste asiático as reconciliações foram bem-sucedidas, o mesmo não pode ser dito da Coreia do Sul e China, pois há questões históricas sensíveis que fazem com que haja litígios políticos entre o Japão e esses dois países, cujos discursos oficiais necessitam de dedicação especial e atenção para não causar maiores adversidades.