Dossiê – Eiji Yoshikawa
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EIJI YOSHIKAWA (1892–1962)
Eiji Yoshikawa, pseudônimo de Hidetsugu Yoshikawa, nasceu em 11 de agosto de 1892 na província de Kanagawa e faleceu em 7 de setembro de 1962 em Tóquio. Um dos mais populares romancistas históricos da literatura japonesa no século XX, iniciou sua carreira literária aos 22 anos, quando começou a escrever contos e romances históricos paralelamente à sua carreira de jornalista.
Suas obras alcançaram grandes tiragens históricas para o mercado editorial japonês de então, sobretudo com seu mais famoso romance histórico Musashi. Muitos de seus títulos foram publicados inicialmente serializados em grandes jornais e revistas literárias. Yoshikawa também se dedicou às versões popularizadas da literatura clássica japonesa.
Na infância, por circunstâncias financeiras da família, foi forçado a deixar a escola primária aos 11 anos de idade para trabalhar. Em sua adolescência, em seu pouco tempo livre, dedicava-se à leitura e à algumas tentativas de escrever poesias e histórias. Em 1910, mudou para Tóquio, onde se interessou por haicais cômicos.
Segundo o pesquisador Edwin Mclellan (1992), no prefácio do livro Fragments of a past: a memoir, Yoshikawa era “… um contador de histórias talentoso, que podia descrever duelos ou cenas de rua com um estilo inigualável e persuasivo. Era erudito, e tinha um bom senso histórico; mas não era um escritor intelectualizado, apenas escrevia romances principalmente para entreter… (tradução livre). ”
Yoshikawa se tornou conhecido no Brasil com a publicação da tradução integral de seu romance histórico Musashi, pela Editora Estação Liberdade em 1998, numa edição com quase 2000 páginas, dividida em 2 volumes, que, sem dúvida nenhuma, se configurava em um enorme desafio comercial, sobretudo, num mercado editorial ainda muito tímido como o brasileiro. A aposta da editora se mostrou frutífera, e o livro alcançou a marca histórica de mais de 100 mil exemplares vendidos.
Segundo Angel Bojadsen, editor da Estação Liberdade, no artigo O eterno sucesso das aventuras do samurai Musashi, de Ubiratan Brasil, publicado em 2008 no Estadão, quatro seriam os fatores de sucesso da obra no Brasil:
1) “… o interesse do público de origem japonesa (afinal, o livro é considerado um dos maiores sucessos do Japão, com mais de 120 milhões de exemplares vendidos ao longo dos anos);
2) “… a boa quantidade de cenas com artes marciais”;
3) “… sua filosofia de vencedor (o que o tornou essencial em cursos empresariais sobre liderança);
4) “… a leitura saborosa, que permite classificar o texto como um Balzac oriental”.
A obra narra a trajetória romanceada do samurai Miyamoto Musashi, que viveu na era presumidamente entre 1584 e 1645. Foi publicada inicialmente em capítulos no jornal Asahi, entre 1935 e 1939, em um total de 1.013 episódios. Musashi é uma figura contraditória, que sofre profundas mudanças durante a vida, de jovem selvagem e sanguinário torna-se um guerreiro equilibrado e sábio, além de hábil espadachim.
Acompanhar a evolução espiritual do personagem, encanta, de certo modo, o leitor, transformando sua saga em uma espécie de guia da arte de viver. Não à toa, sua história foi adaptada ao longo dos anos em inúmeras obras cinematográficas e televisivas, e diferentes edições para os quadrinhos.
Ainda segundo Angel Bojadsen, em 1997, a tradutora Leiko Gotoda, apresentou aos editores uma parte do que já havia vertido para o português. “Era um projeto antigo dela, que pretendia apresentar a cultura japonesa aos filhos, então adolescentes que não falavam a língua original da família (…) O que nos convenceu foi a existência garantida de um público-alvo, ou seja, a grande quantidade de descendentes de japoneses que vivem principalmente em São Paulo e que também não tinham contato com a obra. Era também a possibilidade de se preencher uma lacuna, pois havia uma demanda reprimida no mercado editorial brasileiro da literatura japonesa.” De certo modo, o sucesso de Musashi abre então ainda mais as portas do mercado editorial brasileiro a literatura japonesa, permitindo que outros autores ganhassem tradução direta do japonês para o português.
Convém aqui acrescentar que a obra desperta a imagem de um Japão que habita também o imaginário do brasileiro. Um país distante, repleto de histórias de samurais e guerreiros, cenas de lutas, reflexões sobre ética e honra, entre outros. Ademais de ser uma narrativa muito bem costurada, de leitura fluída, que aguça a curiosidade do leitor a cada página.
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