1. Os Mukashi banashi (contos antigos) da literatura japonesa

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Mukashi banashi. O que são?

 

Mukashi banashi. Expressão que, para muitos descendentes de japoneses, consiste em algo muito familiar, desde a mais tenra infância. Seu significado, “contos antigos” (se a traduzirmos literalmente: mukashi = antigo, hanashi = conto, narrativa), remete a algo simples mas, em termos literários, bastante amplo.

Pode-se dizer que os mukashi banashi japoneses consistem em uma forma literária que, comparada à literatura ocidental compreende, em âmbito geral, contos de caráter maravilhoso, bem como aqueles que se aproximam das fábulas, mitos e lendas. Considerando, assim, esses mukashi banashi como narrativas cuja origem se perde no tempo, é possível dizer que, de maneira semelhante à maioria dos povos, tais contos faziam parte de um acervo narrativo destinado a adultos; entretanto, com a tradição oral e o decorrer das gerações, sofreram modificações em sua estrutura, fato que veio acarretar, em diversos deles, um direcionamento para o campo infantil.

O surgimento dos mukashi banashi ocorreu em uma fase anterior aos registros escritos, em um período em que dominava uma cultura de caráter animista. O Xintoísmo, nome dado às crenças e práticas religiosas autóctones do Japão anterior ao Budismo (que foi introduzido no Japão no século VI d.C.), apresenta tal característica. A palavra shintô significa, literalmente, “o caminho do kami” e, até os dias de hoje, o Xintoísmo permanece intrinsecamente ligado ao sistema de valores japonês e aos modos de agir e pensar de seu povo.

Considerando-se os contos maravilhosos ocidentais, sua origem não foi muito diferente: tomemos como exemplo os Irmãos Grimm que, no século XIX, coletaram narrativas em meio às populações camponesas, frutos de uma tradição oral. Em sua origem, todas essas histórias faziam parte de um acervo narrativo oral adulto. Após a sua compilação, foram sendo transmitidos através das gerações, até chegarem ao campo literário infantil.

 

Otogibanashi. Kintaro. Isuke Miyata (Ed.), 1881. Fonte: National Diet Library Japan

 

Normalmente os contos ocidentais encontram-se classificados segundo terminologias bastante difundidas, e cujas definições apresentam pontos de semelhança entre si:

 

Mito

O tema central dos mitos é a renovação da vida e o restabelecimento da ordem que triunfa sobre o caos – ou seja, a luta entre o Bem e o Mal. Trata-se de uma experiência religiosa, que acaba se configurando em uma experiência cultural, visto que todas as civilizações têm um mito de criação que justifica sua presença no mundo. No caso do Japão, temos o mito de Izanami e Izanagi, o casal primordial que gerou várias divindades; a deusa do sol, Amaterasu, genitora de todos os imperadores, nasceu através de Izanagi;

 

Lenda

Apresenta aspectos similares ao mito, contendo no entanto relatos de acontecimentos onde o maravilhoso e o imaginário superam o histórico. É transmitida e preservada pela tradição oral, e liga-se a certo espaço geográfico e a determinado tempo. Urashima Tarô é tido como o mukashi banashi mais antigo da tradição japonesa, sendo que sua primeira versão surgiu na coletânea Fudoki, do século VIII (Período Nara, 713 d.C.); é classificado como lenda, pois foi uma narrativa registrada na província de Tango (antigo nome da região de Kyoto);

 

Conto maravilhoso

Narrativas de acontecimentos ou aventuras que se passam no mundo mágico ou maravilhoso (espaço fora da realidade comum em que vivemos).  “(…) a ação no conto localiza-se sempre num ‘país distante, longe, muito longe daqui’, passa-se ‘há muito, muito tempo’, ou então o lugar é em toda e nenhuma parte, a época sempre e nunca. Quando o conto adquire os traços de História, perde sua força – o mesmo ocorre com as personagens” (in: JOLLES, André. Formas Simples, p.202).

Temos ainda os contos de fadas, que são uma “(…) variedade do conto maravilhoso, permeado de acontecimentos sobrenaturais que, no entanto, não causam surpresa ao leitor como, por exemplo, o fato de atribuir aos animais a faculdade da fala e de ações estritamente humanas.” (in: TODOROV, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica.). Nesse caso, cria-se uma verossimilhança interna: por mais irreais que pareçam os eventos, eles possuem uma lógica dentro do enredo.

 


 

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