1. Natsume Soseki

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Podemos dizer que Natsume Soseki é, a seu modo, POP, um ícone. Suas obras foram relidas diversas vezes pelo cinema, foram transformadas em mangás e animês, e numa simples busca no YouTube pululam resenhas literárias, audiolivros, animações, em diferentes idiomas. Seu rosto estampa a nota de 1.000 ienes e sua vida e obra inspiram inúmeros roteiros de turismo literário pelo Japão.

 

Mas, o que o torna tão popular e estudado no Japão?

Por óbvio, não é errado dizer que seu refinamento literário é um dos principais fatores. Mas, a sua alma crítica e sarcástica que traça o retrato de uma época na qual o Japão passava por uma intensa transformação estrutural, da social à econômica, que por vezes gerava desorientação e ansiedade na sociedade do período Meiji (1868-1912), é sem dúvida uma das características mais importantes.

Soseki simboliza o surgimento do Japão como uma nação moderna, e a literatura era seu veículo criativo, que ajudou a moldar uma compreensão da condição moderna da sociedade japonesa, e retratou como poucos o importantes aspectos da Era Meiji. E, além de autor de obras de ficção, foi poeta, ensaísta, redator de jornal.

Nascido em 9 de fevereiro de 1867, em Edo, atual Tóquio, sob o nome de registro Natsume Kinnosuke, e falecido em 9 de dezembro de 1916, em Tóquio, sua vida praticamente coincide com o período Meiji, que foi instaurado em 1868 e terminou em 1912.

Seu romance de estreia, Wagahai wa neko de aru [Eu sou um gato] é um grande exemplo de sua sagacidade. Foi publicado nos anos 1905-1906, inicialmente em forma de capítulos na Hototogisu, importante publicação literária da época. É narrado sob o ponto de vista de um sarcástico gato sem nome, que traça críticas à sociedade do período Meiji.

Segundo a editora Estação Liberdade, todos os personagens passam pelo crivo do felino que leva o leitor a uma jocosa aventura, convidando-o para ser seu cúmplice na tarefa de desvendar o trágico cinismo interior de cada personagem e seu mundo repleto de mesquinhez, mentiras, vaidades e desolação.

 

Imagem 2 – Ilustração de “Eu sou um gato” (1905) Por Hashiguchi Goyo (1881-1921)

Seria a encadernação de Wagahai wa neko de aru uma metáfora da época?

Na busca por um livro com encadernação sofisticada, que incorporasse vários elementos dos livros ocidentais, com os quais se familiarizou em sua estada na Inglaterra, Soseki mostrou à editora inúmeros exemplares trazidos da Europa. As ilustrações e encadernação ficaram a cargo de Hashiguchi Goyo (1881-1921), um jovem artista vinculado à Hototogisu na época. Além de Soseki, Hashiguchi trabalhou com muito sucesso nas encadernações de publicações de Mori Ogai, Tanizaki Junichiro, Izumi Kyoka, entre outros. Era especializado em ukiyoe, sobretudo, na vertente bijinga, retratos de beldades.

A obra está disponível em língua portuguesa, traduzida por Jefferson José Teixeira, e publicada em 2008 pela editora Estação Liberdade. É possível ter acesso facilmente à obra, disponível em nossa biblioteca.

Imagem 3 – Parte dos manuscritos da obra “Sanshiro”
Soseki Zenshu Kankokai. Soseki Zenshu 5. 10/6/1936
Coleção Digital da National Diet Library Japan

 

Após essa fase inicial de sua carreira, Soseki amadurece como escritor com o surgimento de uma trilogia escrita entre 1908 e 1910. O primeiro deles, Sanshiro (1908) [Sanshiro], refere-se a um jovem ansioso, mas ingênuo das províncias, Ogawa Sanshiro, e suas experiências como estudante na Universidade de Tóquio; Sorekara (1909) [E depois], considerado o seu primeiro romance psicológico em que se destaca a construção da interioridade dos personagens; e por fim, Mon (1910) [O portal] acompanha o relacionamento do casal de meia idade Sosuke e Oyone.

 

Ainda sem tradução para o português, Garasudo no uchi, que poderia ser traduzido como No aposento com portas de vidro, seria sem dúvida uma grande contribuição para os estudos sobre Soseki no Brasil:

Publicado originalmente em formato de série diária no Jornal Asahi, em 1915, Garasudo no uchi é uma coleção de trinta e nove ensaios autobiográficos escritos um ano antes da morte de Soseki, que fornecem uma visão multidimensional do mundo particular de Soseki e lançam luz sobre suas preocupações como romancista. Um conjunto de reminiscências que ajudam a entender a sua vida e obra.

Disponível na biblioteca:
Japonês: Garasudo no uchi, Iwanami shoten, 1990.
Inglês: Inside my Glass Doors, Tuttle Publishing, 2002.

 


 

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