1. Yōko Ogawa

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Hoje vamos falar um pouco sobre uma das escritoras mais prestigiadas da atualidade no Japão, Yōko Ogawa.

Nascida na cidade de Okayama, no dia 30 de março de 1962, graduou-se na Universidade de Waseda, Tóquio, e atualmente vive em Ashiya, província de Hyōgo, com seu marido e filho. Desde 1988, publicou mais de quarenta obras de ficção e não-ficção, muitas das quais foram agraciadas com os mais prestigiosos prêmios literários japoneses e internacionais.

Embora tenha uma vasta bibliografia, são poucas ainda as traduções feitas para o português, num total de 3 livros: “O Museu do Silêncio” e “A fórmula preferida do Professor”, pela Estação Liberdade, ambos com tradução direta do japonês; e “Hotel Íris”, pela Editora LeYa, uma tradução indireta do francês.

Segundo o artigo “The strange case of Yoko Ogawa and Anne Frank” [O estranho caso de Yoko Ogawa e Anne Frank], do jornal The Sidney Morning Herald, Ogawa é admiradora confessa da obra “O diário de Anne Frank”, com a qual teve seu primeiro contato em sua adolescência solitária no Japão. Ela ficou tão impressionada com a obra que ela própria começou a manter um diário. Ogawa diz que “O coração e mente de Anne eram tão ricos”, e continua “Seu diário prova que pessoas podem crescer mesmo em situações de confinamento como aquela. E escrever poderia dar às elas liberdade” (tradução nossa).

Não à toa o “O diário de Anne Frank” aparece em muitos de seus livros, seja de forma literal como em “O Museu do Silêncio”, fazendo inclusive parte do enredo; seja em forma de inspiração como em “Memory Police”, ainda sem tradução para o português, sobre o qual Ogawa diz: “Eu queria digerir a experiência de Anne do meu próprio jeito e depois recompô-la em meu trabalho”.  Muitos de seus livros se passam em ambientes de confinamento físico, lugares restritos, mas também de confinamento psicológico ou os revisitam.

Neste sentido, fica a dica de leitura para compreender um pouco mais o mundo literário de Yōko Ogawa: “O diário de Anne Frank”, escrito por Anne Frank entre 12 de junho de 1942 e 1º de agosto de 1944, com inúmeras edições brasileiras bastante acessíveis.

As obras de Ogawa costumam dar ênfase mais em emoções do que em ações, dissecando as relações humanas, dando especial atenção à construção das personagens, seu crescimento diante de situações adversas, analisando o seu exterior e interior, num estilo literário muito denso e descritivo, com grande esmero na escolha do vocabulário em japonês. Por isso, sua leitura é recomendada àqueles a procura de bons exemplos de literatura japonesa moderna, e que apreciam um estilo de escrita hábil, mas que se concentra mais na descrição do que na ação dramática em si.

Em particular em “O Museu do Silêncio”, criou-se um mundo paralelo, que por vezes gravita no limite entre realidade e imaginação, onde habitam seres fictícios, como o bisão-dos-rochedos-brancos, e suas personagens não têm nome, são simplesmente designadas por suas funções ou por suas características físicas e psicológicas. Assim, temos o museólogo, a velha, a menina, o jardineiro, o homem cego, os missionários do silêncio, etc.

O local e o tempo da trama também não são identificados, fazendo com que a obra tenha alcance universal, embora seja possível aqui e ali identificar uma ou outra pitadinha de Japão. Para aqueles que procuram na literatura o retrato mais direto da cultura e sociedade japonesa de uma determinada época, o “O Museu do Silêncio” definitivamente não é o livro mais recomendado, assim como muitas de suas obras.

Ogawa constrói personagens complexos e únicos, com traços psicológicos bem definidos, que nos convida a refletir sobre a condição humana. Lendo seus livros, a sensação é de que cada personagem vai sendo construído de forma metódica, camada por camada.

Se fossemos destacar algumas palavras-chave de suas obras, poderíamos certamente enumerar: memória, recordação, relação humana, fragilidade humana, morte, grotesco, dark, suspense, distopia, resignação, erotismo, entre outras. Temas que são revisitados de tempos em tempos na sua bibliografia.

Enfim, como diz Kenzaburo Ōe, Prêmio Nobel de Literatura, Yōko Ogawa é capaz de dar expressão às maquinações mais sutis da psique humana, em uma prosa que é delicada, mas penetrante.

 

 

NOTAS IMPORTANTES
・Títulos entre [ ] de artigos e livros são de tradução nossa, ainda sem publicação no Brasil.
・Todos nomes japoneses são utilizados na ordem convencional brasileira, Nome Sobrenome, ex. Yōko Ogawa.
・A romanização de termos japoneses utiliza o acento macron para representar vogais longas, ex. Yōko.
・Os títulos japoneses romanizados são escritos em itálico, ex. Agehacho ga kowareru toki.

 


 

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