1. Yōko Tawada – Mensagem aos leitores brasileiros

Yōko Tawada 

Fevereiro 2022 

 

Tradução de Anna Ligia Pozzetti de Abreu

Komorebi Translations

 

Não faz muito tempo desde minha visita ao Brasil, em 2019. Logo depois, mergulhamos na pandemia e não foi mais possível viajar. Em um período de introspecção, sinto que, aos poucos, as diversas lembranças de São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro que permanecem no fundo do meu coração vão se sedimentando, fermentando e me nutrindo. O primeiro laureado com o Prêmio Akutagawa, um dos principais prêmios literários do Japão, foi Tatsuzō Ishikawa, com a obra Sôbô: Uma Saga da Imigração Japonesa (1935), que retrata a vinda dos japoneses ao Brasil. Durante quase um século de existência do prêmio, a literatura de língua japonesa voltou-se para questões internas e obras que tratam da imigração se tornaram uma exceção. Mas eu acredito que, também na literatura de língua japonesa, pode haver espaço para uma curiosidade aguçada que avança para além mar. Revisitando a história, descobri que pesquisadores que respeito, como Darwin e Claude Lévi-Strauss, que se questionavam sobre a grande pergunta “o que é o ser humano?, estiveram no Brasil. Ainda hoje, o Brasil é um local que segue ensinando muito para o resto do mundo, com destaque para a coexistência de pessoas de diferentes trajetórias e para a Floresta Amazônica, com sua rica biodiversidade que ajuda a amenizar o aquecimento global. Estou sempre atenta ao que acontece no Brasil. Desejo, do fundo do meu coração, que vocês possam ter um ano com saúde, sem esmorecer diante da pandemia e dos desafios políticos e econômicos enfrentados no país.”   

 

Yōk​o Tawada (2019), Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Foto: Keiko Susaki

 

 

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