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SÉRIE ESPECIAL DE ENSAIOS – A cultura japonesa e a imaginação da catástrofe

O artigo não pode ser utilizado total ou parcialmente sem o expresso consentimento do autor. A FJSP não detém os direitos sobre a obra, que pode ser protegida por direitos autorais.

Andrei dos Santos Cunha: Professor de Literatura Japonesa e Tradução do Curso de Bacharelado em Letras – Tradutor Japonês/Português da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tradutor literário com traduções publicadas de Tanizaki Jun’ichirô, Tawada Yôko, Ogawa Yôko (no prelo), Nagai Kafû e Inoue Yasushi. Traduziu Cem poemas de cem poetas (2019) e Poemas do Japão antigo: seleções do Kokin’wakashû (no prelo). Doutor em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS. Mestre em Relações Internacionais e Bacharel em Direito Japonês pela Universidade de Hitotsubashi, Tóquio, Japão. Bolsista do Ministério da Educação do Japão de 1994 a 2001.

E-mail: andrei.cunha@ufrgs.br

 

Resumo: A imaginação da catástrofe tem uma longa história na cultura japonesa. A começar pelo Kojiki (século VIII), os desastres naturais foram associados aos deuses e vários rituais foram desenvolvidos para tentar aplacar a fúria da natureza. Essa conceptualização da natureza como algo provido de personalidade, majestosa e temível, é retomada nas artes — seja no século XIX, na obra de Hokusai, como no século XX, em filmes como Godzilla ou nos títulos do Estúdio Ghibli. Kamo no Chômei, no século XII, busca refletir sobre as catástrofes como indícios da fragilidade da condição humana. A natureza, no Japão, não é vista como um inimigo a ser aniquilado — ainda que seja respeitada como perigosa e formidável. A guerra, as epidemias e a destruição do meio-ambiente são temas recorrentes da literatura japonesa, a começar pelos autores imbuídos do conceito de mappô, na Idade Média, até os dias de hoje, na obra de escritoras como Ogawa Yôko, por exemplo — sem esquecer importantes nomes, como Ibuse Masuji, Ôe Kenzaburô e Miyazawa Kenji. As atitudes japonesas tradicionais e as reflexões contemporâneas sobre esses temas são um interessante tópico a abordar nesta era em que vivemos, quando o luto, a catástrofe e o desequilíbrio do meio-ambiente são cada vez mais fenômenos de alcance global.

 

Palavras-chave: catástrofe, cultura japonesa, pandemia, luto coletivo, concepção de natureza

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