4. Livros em Português

As obras de Yōko Tawada começam a despertar o interesse do leitor brasileiro e estão sendo aos poucos traduzidas para o português, dentre os quatro títulos brevemente apresentados abaixo, todos disponíveis na biblioteca, um é uma coletânea de trabalhos acadêmicos desenvolvidos, sobretudo, do ponto de vista dos estudos germânicos. Em seguida, um breve texto de Roberto Schmitt-Prym, diretor da Bestiário/Class, sobre a relação da editora com a literatura japonesa. 

 

Memórias de um urso-polar 

Tradução de Lúcia Collichonn de Abreu, Gerson Roberto Neumann. São Paulo: Todavia, 2019. 272 p. 

Título original: Etüden im Schnee. 

Foto: © FJSP 

Em 2006, um urso-polar bebê chamado Knut foi rejeitado por sua mãe e criado por um tratador do zoológico de Berlim, na Alemanha ― tudo isso sob os holofotes vorazes da mídia global. Aturdidos, os fãs do pequeno animal se perguntavam como um ser tão fofo poderia ter sido motivo de desdém materno. Entre tantas pessoas perplexas com o desenrolar da história estava Yoko Tawada, uma escritora japonesa radicada naquele país desde 1982. Atualizando as fábulas de Esopo e La Fontaine, Tawada dá voz primeiro à avó, nascida na União Soviética que, depois de escrever suas memórias que se convertem em best-seller, se exila no Canadá. Sua filha, Toska, uma dançarina circense, instala-se na Alemanha Oriental, e Knut, o neto, nasce no zoológico de Berlim, tornando-se uma estrela midiática. E são essas três gerações de escritores e artistas de talento, estrelas no mundo literário, no circo e no zoológico, que apresentam estas memórias de um urso-polar, um dos livros mais inventivos e tocantes dos últimos anos. 

 

ÜBERSEEZUNGEN: retrato de uma língua e outras criações 

Tradução de Marianna Ilgenfritz Daudt, Gerson Roberto Neumann. Porto Alegre: Class, 2019. 112 p. Título original: ÜBERSEEZUNGEN. 

Foto: © FJSP 

 

“Um livro ousado, repleto de graça e inspiração. Lê-se no título ‘Überseezungen’ – entre outros significados – as ‘traduções’ que levam a protagonista a viajar ao sul da África, aos Estados Unidos, ao Canadá e de volta ao Japão e à Alemanha (Tawada, nascida e criada no Japão, mora desde 1979 na Alemanha). O leitor aprende muito sobre países, sobre povos e sobre os traços das palavras quando a escritora, em sua perspicácia benjaminiana, expressa a perplexidade e o maravilhamento proporcionados pelas diferentes formas e barreiras linguísticas, as quais investiga espirituosamente em frases simples, ao mesmo tempo vivazes e despreocupadas, que respiram os ares da poesia e da filosofia.” (Überseezungen apud Revista Text + Kritik) 

 

Polícia da língua e poliglotas jogadores 

Tradução de Gerson Roberto Neumann, Cláudia Fernanda Pavan, Marianna Ilgenfritz. Porto Alegre: Class, 2021. 144 p. Título original: Sprachpolizei und Spielpolyglotte. 

Foto: © FJSP 

 

“O livro Polícia da língua e poliglotas jogadores traz ao leitor ensaios em que Tawada brinca com questões linguísticas de pessoas que transitam entre culturas, de pessoas que se movem facilmente entre culturas, o caso da própria autora dos ensaios. Além disso, Tawada apresenta questões culturais do Japão, de onde saiu com 19 anos para viver na Alemanha, onde hoje se destaca como escritora na língua alemã, sendo reconhecida também na literatura japonesa. Yoko Tawada vê o Japão desde a Europa, desde a Alemanha e apresenta leituras de um país, ao qual ela se sente pertencente por ter nascido em Tóquio, visto com um olhar diferente.” 

 

Yoko Tawada: sua recepção no Brasil 

NEUMANN, G. R.; RICHTER, C.; DAUDT, M. I. (org.). Porto Alegre: Class, 2021. 240 p. 

Foto: © FJSP 

 

“O interesse pela obra de Tawada no Brasil é recente, mas vem crescendo nos últimos anos, dando origem às primeiras traduções de obras e produzindo teses e dissertações. As traduções e também a visita da autora ao Brasil em 2019, ocasião em que participou de eventos literários, promoveram a divulgação e o acesso à parte desta vasta e já consolidada obra. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – o professor de Literatura Alemã, professor Gerson Robert Neumann, coordena desde 2018 o projeto de pesquisa ‘Yoko Tawada – escritora japonesa na literatura alemã. A literatura exofônica e sem morada fixa. Tendências das novas literaturas do mundo’. A temática tratada por Tawada é ampla, fomentando possibilidades variadas de abordagem. Esta coletânea é fruto de alguns trabalhos produzidos no Brasil em torno de diferentes aspectos da obra tawadiana, celebrando a diversidade de possibilidades de estudo proporcionada.” 

 

Editora Bestiário e a literatura japonesa 

Roberto Schmitt-Prym 

Diretor da Editora Bestiário 

Fevereiro 2022 

 

A Bestiário iniciou em 2004, em Porto Alegre, com uma revista eletrônica originada das importantes oficinas literárias de Charles Kiefer e de Assis Brasil e vem desde então publicando autores nacionais e traduções de autores estrangeiros como Guy Helminger, Henry Lawson, James Joyce, Joseph Conrad, Leif Randt, Markéta Pilátová, Simone Weil, Vicente Huidobro, William John Locke, Wolfgang Borchert e Yoko Tawada, entre outros. A editora tem em sua história 28 prêmios e conta com um catálogo ativo de mais de 200 títulos. 

 

Em 2018, com a parceria de Andrei Cunha, professor de japonês da UFRGS, amplia sua atuação, publicando clássicos da literatura japonesa. O primeiro título foi a tradução integral de “Cem poemas de cem poetas” (Ogura Hyakunin Isshu), antologia compilada entre 1230-1240 d.C., livro que recebeu o “Prêmio AGES e o “Prêmio Açorianos”. A partir da tradução de “Poemas do Japão antigo” (Seleções do Kokin’wakashû), e de “Poemas do Japão medieval”, a edição de poesia japonesa trouxe ao público brasileiro as obras de Masaoka Shiki, Kobayashi Issa e Ryôkan Taigu. A poesia japonesa exerceu grande influência no movimento Modernista brasileiro, e partindo desta premissa, a editora Bestiário publicou grande número de autores com inspiração japonesa, principalmente haicais.   

 

Em prosa, a editora publicou o clássico “O limão” de Kajii Motojirô, em parceria com a tradutora Karen Kawana, com a qual também foi editada a obra “Três poetas em Minase”, com tankas de Sôgi, Shôhaku e Sôchô. Em outra parceria importante, com o professor Gerson Roberto Neumann da UFRGS, foram editadas as obras de Yoko Tawada, “Überseezungen”, “Polícia da língua e poliglotas jogadores” e o livro de ensaios “Yoko Tawada, sua recepção no Brasil”. 

 

Iniciou, em 2020, a publicação de livros de autores brasileiros, traduzidos para japonês, em parceria com o tradutor e calígrafo Shogoro Nomura, que vive entre o Japão e a Itália. Para 2022, a editora Bestiário estará lançando obras de Natsume Soseki, Taneda Santoka e Yosa Buson. 

Foto: © FJSP

 

Outras obras japonesas na editora Bestiário: 

CEM POEMAS DE CEM POETAS – Clássico japonês 

CORVOS – Haicais de Kobayashi Issa e gravuras de Kawanabe Kyôsai 

ISSO NÃO É ARTE – Kobayashi Issa 

O LIMÃO – Kajii Motojirô 

POEMAS DA ESCOLA E DAS TRILHAS DE BASHÔ – Seleção de poemas 

POEMAS DO JAPÃO ANTIGO – Seleções do Kokin’wakashû 

POEMAS DO JAPÃO MEDIEVAL – Seleção de poemas 

SHIKI, INVENTOR DO HAICAI MODERNO – Ensaio e seleção de haicais 

TODOS OS HAICAIS – Ryōkan Taigu 

TRÊS POETAS EM MINASE – Sôgi, Shôhaku e Sôchô 

 

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