Encontros


Reison Kuroda

Publicado por FJSP em

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“Antigo, quero mudar a imagem de que é um instrumento para idosos”

No dia 2 de julho, foi realizada em São Paulo a apresentação do músico Reison Kuroda, Enviado Cultural da Agência para Assuntos Culturais do Japão de 2019, intitulada “Encontros: Reison Kuroda toca música brasileira e japonesa ao shakuhachi”. O evento contou com a participação especial de dois músicos brasileiros, Shen Ribeiro no shakuhachi e Gabriel Levy no piano. Na programação, foram incluídas músicas tradicionais de shakuhachi e também músicas brasileiras. A reação do público foi calorosa e ao final da apresentação os músicos foram aplaudidos de pé.

No dia seguinte, Kuroda ministrou um workshop, no qual foram apresentados os três estilos musicais tradicionais de shakuhachi e também uma nova técnica, que está sendo desenvolvida pelo próprio músico. Os participantes eram de idades, experiências e estilos musicais variados.

Aproveitando a oportunidade, entrevistamos Reison Kuroda para saber um pouco mais sobre aspectos de sua vida e sua passagem pelo Brasil.

 


O que te levou a tocar shakuhachi?

Desde a infância, tocava piano, mas ao ouvir a música “November Steps”, do compositor Takemitsu Toru, foi um momento tão marcante que decidi me aventurar pelo shakuhachi aos 20 anos de idade. A partir disso, me foquei em me tornar um músico profissional de shakuhachi, e iniciei os estudos com o professor Reibo Aoki, considerado Tesouro Nacional Vivo do Japão.

 

O shakuhachi tem uma imagem de ser um instrumento difícil de tocar, qual a sua opinião?

Penso que dificuldade de aprender a tocá-lo é semelhante à de tocar uma flauta ou outros instrumentos musicais. A diferença é que o shakuhachi é um instrumento meio primitivo, por isso é simples, embora com infinitas possibilidades. No meu caso, pode ser que o fato de eu já tocar piano, tenha facilitado um pouco o aprendizado do shakuhachi.

 

Como conheceu a música brasileira?

Tive uma época em que fui DJ. Na verdade, pelo menos uma vez por ano ainda exerço o cargo de DJ, por isso ouvia muitas músicas do mundo todo, dentre as músicas de que eu mais gostava, estavam as de músicos brasileiros. Assim que comecei a gostar e buscar por músicas brasileiras.

 

Como se tornou Enviado Cultural da Agência para Assuntos Culturais do Japão?

A Agência me convidou a participar no processo seletivo, e fui aprovado.

 

O que achou de ter tocado músicas brasileiras com shakuhachi aqui em São Paulo?

Sempre foi o meu sonho tocar músicas brasileiras para brasileiros, e como o meu sonho se realizou fiquei muito feliz. No Japão, o Pixinguinha não é muito conhecido, mas quando estava no restaurante do hotel deu para ouvir muitas músicas do Pixinguinha, percebi que as músicas dele são bem próximas dos brasileiros. Na verdade, queria saber a opinião do público sobre a minha apresentação.
Quando acabou o concerto e o público se levantou para aplaudir, fiquei extremamente feliz.

 

O que achou de ter se apresentado junto com o Shen e o Gabriel?

O Shen é meu veterano de faculdade, por isso foi um orgulho ter me apresentado com ele. O Gabriel já a primeira vista, senti que era um grande músico, por isso foi uma enorme honra ter tocado ao lado de dois grandes músicos. Estou muito feliz também de saber que há a possibilidade de tocarmos juntos novamente no Japão.

 

Qual a sua impressão sobre o Brasil?

Achei que os brasileiros gostam muito de música. E fiquei surpreso que no Brasil tem inverno.
Durante a minha estadia no Brasil, o meu hobby é observar os grafites. Se for uma caminhada de até duas horas, vou até o local e tiro foto dos grafites.

 

Por último, qual seria a sua missão como Enviado Cultural do Japão?

Além de ajudar a aprofundar a compreensão do mundo sobre a cultura japonesa, apresentando as novas técnicas de shakuhachi, mudar a imagem estereotipada de que ele é um “instrumento antigo de idosos”. Se as pessoas entenderem isso e compreenderem as infinitas possibilidades do shakuhachi, a minha missão estará cumprida.

 

Kuroda Reison

Músico de talento raro, trabalha pela a expansão das possibilidades do Shakuhachi, percorrendo uma ampla variedade de gêneros musicais, do clássico ao moderno, passando pelo jazz e até mesmo pelo improviso.

Iniciou os estudos com o professor Reibo Aoki, considerado Tesouro Nacional Vivo de shakuhachi, e Shoji Aoki, no Japão. Graduado em Ciências Humanas pela Universidade de Waseda, em 2007, concluiu mestrado no Departamento de Música Tradicional Japonesa da Universidade de Artes de Tóquio, em 2013.

Iniciou sua carreira integrando o grupo Hougaku Quartet, em 2011, com o qual se apresentou ao lado de jovens compositores, revitalizando a música japonesa dos anos 70 e 80 e interpretando clássicos do período Edo. É também integrante do grupo Muromachi, vencedor do Prêmio Keizo Saji, em 2013.

Em 2014, participou do Park Bum-Hoon’s Shakuhachi Concert, no Korea Kudara Festival, e em Gongju, na Coreia.

Sua primeira performance para o público aconteceu no Kazutomo Yamamoto’s Shakuhachi Concert, com “Roaming Liquid for Shakuhachi and Orchestra”.

Com o Hougaku Quartet, participou de diversas apresentações e performances independentes, entre elas o programa “Hogaku no Hitotoki”, da emissora de rádio japonesa NHK FM. Também foi capa da revista “Hogaku Jorunal”, em 2015. Passou em audição para músicas japonesas do canal NHK, em 2015, e realizou uma apresentação solo no “Hogaku no Hitotoki”, do NHK FM.

Em 2016, foi premiado no concurso de Instrumentos Tradicionais Japoneses Hidenori Tone, transmitido pelo programa Nippon no Geinoh, da NHK Educational TV. Também participou do festival de música moderna na Bélgica, em 2016; e venceu o principal concurso mundial de shakuhachi, em Londres.

 



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