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Zen, Robôs e Inteligência Artificial

Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais.

Rafael Shoji
Cientista da Computação formado pela Universidade de São Paulo e Doutor em Ciência da Religião pela Leibniz Universidade de Hannover (Alemanha). É pesquisador pelo Centro para Estudo de Religiões Alternativas de Origem Oriental (CERAL, PUC/SP) desde 1998 e sócio-diretor da Eval Digital desde 2004, uma empresa especializada em criptografia, proteção de dados e IA generativa aplicada. De 2006 a 2007 foi pesquisador pela Fundação Japão, e novamente de 2010 a 2011 esteve no Instituto de Religião e Cultura de Nanzan (Nagóia, Japão). Como cientista da religião tem se dedicado especialmente ao estudo das religiões japonesas no Brasil e a transformação das religiões a partir da tecnologia digital.

 

E-mail: rafaelshoji@hotmail.com

 

Palavras-Chave: Zen, tecnologia, robôs, inteligência artificial, espiritualidade, Kannon, Baudrillard, Jean-Luc Marion.

 

Resumo:

Este artigo investiga a convergência entre o Budismo Zen, a robótica e a inteligência artificial (IA), explorando as implicações filosóficas e espirituais da integração da tecnologia avançada com práticas espirituais tradicionais. A pergunta central aborda a possibilidade de robôs e sistemas de IA possuírem uma essência búdica ou funcionarem como veículos para ensinamentos espirituais, desafiando as fronteiras tradicionalmente exclusivas do domínio humano. Inicialmente são destacadas diferentes abordagens na história da representação no Budismo e no Zen, com foco em meios habilidosos (upaya) por um lado, a partir da adaptabilidade na transmissão dos ensinamentos budistas, em contraposição à iconoclastia Zen, que busca a relativização contínua das imagens e esculturas em favor da experiência direta e espontânea. São mostradas então abordagens recentes, especialmente no caso do Japão, sobre a possibilidade do “Buda no robô”, no sentido de os robôs possuírem natureza búdica, o que mostra uma fusão única dessas ideias no contexto japonês e que pode ser exemplificada com casos práticos da espiritualidade através de robôs como sacerdotes ou funerais para pet robôs. O caso do androide Kannon Mindar, introduzido pelo Templo Kodaiji em Kyoto, é analisado em mais detalhe, como um exemplo da fusão entre tradição e tecnologia, desafiando as noções convencionais de práticas espirituais e representação divina. A fenomenologia, especialmente os conceitos de simulacro em Baudrillard e os conceitos de ídolo, ícone e fenômenos saturados de Jean-Luc Marion são utilizados para investigar como os avanços em IA podem alterar nossa percepção do espiritual e do transcendente. Por fim, o artigo introduz o conceito de “espiritualidade artificial generativa”, uma nova forma de espiritualidade ou prática religiosa criada por sistemas de IA generativa, capazes de produzir conteúdo, comportamentos e interações personalizadas e inovadoras. O artigo visa iluminar as nuances dessa interação complexa e suas implicações para o entendimento contemporâneo do Budismo Zen na sociedade tecnológica atual e o prenúncio das possibilidades de futuro.

 

 

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