Monica Setuyo Okamoto – Sôbô: Uma Saga da Imigração Japonesa, de Tatsuzô Ishikawa
Tradução em Foco > Monica Setuyo Okamoto
Sobre o autor
Tatsuzô Ishikawa nasceu em 02 de julho de 1905 (ano 38 do Período Meiji) em Yokote, província de Akita, no Japão. Seu pai era professor de inglês do Ensino Fundamental, e tinha um profundo interesse por haiku e por estudos de ideogramas. Em 1914, aos nove anos de idade, Ishikawa perde a sua mãe e, posteriormente, com o segundo casamento do pai, é criado pela madrasta.
Sua vida literária teve início em 1922 quando começa a escrever poesias e romances inspirados em autores europeus como Émile Zola e Anatol Rosenfeld. Ingressa no Curso de Literatura Inglesa da Universidade de Waseda em 1927, mas no ano seguinte acaba abandonando a faculdade. Começa, então, a trabalhar como jornalista, até que em 1930 Ishikawa decide inscrever-se no Programa de Incentivo à Imigração ao Brasil do governo japonês.
Sua curiosidade em conhecer outras culturas acabou levando-o a essa aventura, contudo, como boa parte dos jovens de classe média urbana do Japão, o autor de Sôbô, fica chocado ao se deparar com tamanha pobreza e dificuldade de muitos cidadãos japoneses na hospedaria de Kobe (local onde os emigrantes faziam os exames médicos, recebiam orientações e finalizavam os preparativos antes da viagem). Como jornalista, Ishikawa sentiu uma enorme necessidade de relatar sobre tudo aquilo, porém uma matéria no jornal não seria suficiente para abarcar toda problemática que o tema da emigração suscitava, decidindo, portanto, transformar seu depoimento em romance social.
Após meio ano de estada no Brasil, o autor retorna para o Japão e envia o manuscrito de Sôbô ao crítico literário Yoshihide Nakayama que apresenta um parecer desfavorável à publicação; fato que deixa Ishikawa sem autoconfiança para prosseguir com o lançamento. Na mesma época, a Revista Hata se interessa em lançar a obra, contudo pouco tempo depois entra em falência. Desanimado com o insucesso de suas investidas, o autor retorna por um tempo para a sua terra natal, quando em 1933 consegue finalmente publicar Sôbô pela revista Seiza (Constelação). Dois anos mais tarde, em 1935, o jornalista e até então escritor desconhecido Tatsuzô Ishikawa é laureado com o 1º Prêmio Akutagawa, um dos prêmios literários de maior prestígio no Japão, por seu romance de estreia. É relevante mencionar que Ishikawa concorreu com outros quatro escritores já conhecidos e renomados na época: Osamu Dazai, Shigeru Tomura, Jun Takami e Shozo Yomaki
Seus trabalhos posteriores se mesclam entre o jornalismo e a literatura, tendo como exemplo nesse sentido a publicação do romance social ikiteriru heitai baseado em sua vivência como jornalista no massacre de Nankin. Devido ao regime autoritário da época, a obra sofre forte censura e muitos trechos acabam sendo removidos. O lançamento só foi possível no pós-guerra em 1945. Sua carreira literária prossegue e em 1969, ganha outro prêmio, Kikuchi Kan, por sua contribuição à literatura japonesa. Faleceu em Tóquio aos 79 anos de idade em 1985.
Monica Setuyo Okamoto
Professora Associada de Língua e Literatura Japonesa no Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Paraná. Traduziu o romance Sôbô (Ateliê Editorial, 2019 – 2ª edição) com Takao Namekata e Maria Tomimatsu; organizou, com Francisco Hashimoto e Janete Tanno, o livro Cem Anos da Imigração Japonesa. História, Memória e Arte (Editora Unesp / Fapesp, 2008) e é autora do livro A Influência Francesa no Discurso Brasileiro no Japão. Imigração, Identidade e Preconceito racial (Porto de Ideias Editora, 2016). Coordenou com Maria Ligaya Fujita o webdocumentário NipoBrasileiros (da Pietà Filmes, 2019), ganhador do prêmio Brave NewSeries no Seul Web Festival 2019. Atualmente, é coordenadora do Projeto de Extensão Arquivo de História Oral de Grupos Étnicos Minoritários da Universidade Federal do Paraná (desde 2017). Foi pesquisadora da National Research Foundation da Coreia do Sul na área de imigração asiática (maio de 2017- Maio de 2019). É membro do grupo de pesquisa TRANSFOPRESS do Conselho Nacional de Pesquisa do Brasil, e pesquisadora do Projeto Transnational Japanese Diaspora: Preserving the Brazilian Nikkei Literary and Cultural Heritage (Federal Award ID no: HC-279973-21) da Universidade Stanford (desde janeiro de 2021).