Monica Setuyo Okamoto – Pertinência e desafios da tradução de Sôbô

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Em 2004, ao passar oito meses em Osaka como bolsista da Fundação Japão, tive a oportunidade de realizar uma pesquisa sobre a emigração japonesa para o Brasil nas universidades e nas principais bibliotecas especializadas do Japão (como a Biblioteca de Wakayama). Em meio às pesquisas, acabei me deparando com a obra Sôbô, de Tatsuzô Ishikawa. Para a minha surpresa, essa obra literária japonesa, com foco na história dos emigrantes japoneses que viajaram para o Brasil, havia sido laureada com o 1º Prêmio Akutagawa em 1935 e, ainda, nunca havia sido traduzida para o português. Assim, em 2005 retornei para o Brasil com a ideia fixa de traduzir essa obra, não apenas por conta de seu mérito literário, mas também por apresentar a temática imigratória dos japoneses de forma inovadora, fugindo das clássicas análises historiográficas que conhecíamos.

Lancei a proposta de tradução da obra aos meus colegas: Maria Fusako Tomimatsu e Takao Namekata que prontamente aceitaram realizar um trabalho tradutório em conjunto. Apesar de nenhum de nós termos uma experiência anterior no campo da tradução, resolvemos nos lançar de estreia com um romance premiado na década de 1930. Desafio nada simples, uma vez que a linguagem lírica requer cuidados de equivalências e sensibilidade na escolha dos vocábulos. E esse foi, certamente, o nosso primeiro e, talvez, o maior desafio como tradutores literários: a própria linguagem. Os dialetos e a linguagem marcadamente hierárquica característicos da língua japonesa foram, de certa forma, perdidos na tradução para o português. Alguns objetos muito específicos trazidos pelos imigrantes japoneses também representaram uma série de pesquisas históricas e linguísticas. Talvez, o exemplo mais emblemático tenha sido a palavra kouri (uma espécie de cesto feito de bambu, porém utilizado com a função de uma mala pelos imigrantes). Sentimos a dificuldade em encontrar equivalências também para o próprio título da obra: 蒼 氓, cuja tradução é bastante complexa, por conta dos significados múltiplos que os ideogramas podem oferecer. Literalmente, a palavra significa “povo estrangeiro”, mas podendo ter a conotação de “trabalhadores braçais”. Os editores recearam que o título da obra “Povo” não fosse adequado por uma questão de estratégia de marketing e também porque seria lançada em uma data comemorativa em homenagem à história dos imigrantes japoneses. Notamos, assim que a arte da tradução literária requer levar em consideração o contexto editorial da sua publicação, um dado que só nos ocorreu no momento da apresentação da obra traduzida às editoras brasileiras.

 

© Ateliê Editorial / Foto: FJSP

 

Aliás, publicar a tradução de uma obra literária japonesa no Brasil também pode ser considerado um desafio, uma vez que o público e os editores, de modo geral, ainda mantém um imaginário de literatura exótica e longe dos cânones da literatura ocidental. Ao que parece, alguns autores japoneses, como Haruki Murakami, por exemplo, se tornaram mais populares, sobretudo entre os leitores (as) jovens brasileiros; porém boa parte dos escritores(as) e poetas/poetisas nipônicos continua no anonimato.

Outro desafio foi a nossa falta de formação profissional na área de tradução literária. Apesar da minha graduação no curso de Letras Japonês/Português pela Universidade de São Paulo, não é possível dizer que sou habilitada a exercer profissionalmente a tradução literária. Especializar-se no campo da tradução é um desafio que começa pela própria formação; desse modo, sentimos a falta de Centros de Estudos e Programas Formativos de Tradução Literária, sobretudo na área da língua japonesa.

 

Referências

OKAMOTO, M. S.. História e ficção no romance Sôbô, de Tatsuzô Ishikawa. In: Francisco Hashimoto; Janete Leiko Tanno; Monica Setuyo Okamoto. (Org.). Cem Anos da Imigração Japonesa: História, Memória e Arte. São Paulo: Editora UNESP, 2008, v. , p. 321-326.

OKAMOTO, M. S.; NAMEKATA, T. ; TOMIMATSU, M. F. . Sôbô. Uma saga da imigração japonesa. São Paulo: Ateliê, 2019. (Tradução/Livro).

OKAMOTO, M. S.; TANNO, J. . Tatsuzô Ishikawa: um olhar japonês sobre a emigração para o Brasil. Revista de Estudos Orientais, v. 7, p. 173-183, 2009.

 

Depoimento Profª Drª Maria Fusako Tomimatsu

1935年、第一回芥川文学賞受賞作品、石川達三著「蒼氓」がポルトガル語訳されたのは日本人ブラジル移住百年を記する2008年のことであった。翻訳に携わった一人として、以後第二版が出版されたことは心密かに喜ばしく感じるところである。作品中に移民船で道中の退屈しのぎに様々な催し事が行われた事が記されているが、1930年、8歳の時、家族共々ブラジルに移住した父にも運動会に参加した思い出話を聞いた事がある。もらった賞品を近くにいた大人が与かってくれたが、後に返してくれなかったそうである。移住者として新しい生活を求めて異国に向かう家庭の子である。たとえ商品が鉛筆一本であろうと子供にとっては貴重なものである。それをちょろまかすとは、返してもらえなかった子供が大人になっても忘れられなかったように、くすねた大人の記憶にも残ったであろうか。以後、長い月日が過ぎ去り、一時的な出稼ぎを計画して海を渡って来た日本人達は永住することになり、ブラジルの地で力強く生きて行く運びになったのである。移住一世紀後にも「蒼氓」がポルトガル語訳で読まれ続けている事は、歴史上貴重なことであり、それに参加する機会を与えられた者の一人として只感謝あるのみである。

富松マリア房子

 

 


 

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