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Fundação Japão e Marugoto Oficina Cultural promovem eventos para divulgação do Karuta Competitivo
Publicado por FJSP em Arte e Cultura 27/01/2016
A Fundação Japão em São Paulo e o curso de língua japonesa Marugoto realizaram, no último fim de semana, eventos sobre o Hyakunin Isshu Karuta, com workshop, demonstração do jogo e simulação de competição. Os eventos contaram com a participação da atleta japonesa Mutsumi Stone, que possui o nível máximo destas competições (6º dan) e pertence à Associação Nacional de Karuta.
A instrutora estava bastante animada com esta visita, que segundo ela é a primeira em um país de língua portuguesa. A novidade foi ainda mais interessante visto que a palavra ‘karuta’ tem origem no português ‘carta’.
No dia 16 de janeiro, sábado, foi realizado o “Workshop de Karuta Competitivo”, na Associação Beneficente Provincianos Osaka Naniwa Kai, aberto ao público. Com as 50 vagas preenchidas, o evento foi dividido em três partes: palestra, workshop e demonstração de kyogi karuta. Mutsumi Stone falou sobre a história do karuta, como se joga o kyogi karuta (karuta competitivo) e as técnicas básicas necessárias para o jogo, tais como o posicionamento das cartas, como organizar e manusear as cartas e também ofereceu dicas para auxiliar a memorização.
Depois das explicações foi realizada uma demonstração envolvendo dois integrantes do DC Inishie Karuta Club, grupo formado por Mutsumi em Washington, nos Estados Unidos, que vieram exclusivamente para o evento. Em seguida, divididos em grupos de cerca de oito pessoas, todas elas com conhecimento de hiragana, os participantes puderam jogar uma partida de chirashidori, no qual todas as cartas são espalhadas e o objetivo é pegar o maior número delas. Ao final, cada mesa sagrou um campeão. Mutsumi Stone homenageou todos os campeões com certificados e outros brindes que trouxe com ela.
Na última parte, foi realizado um torneio com a participação de Mutsumi. Neste momento, membros da Meguriai Kai – Grupo de Karuta de São Paulo e os dois integrantes do DC Inishie Karuta Club competiram para que o público pudesse se familiarizar ainda mais com o jogo. Aqui, também, todos os vencedores foram condecorados com um certificado.
Ao final, os integrantes do Meguriai Kai – grupo fundado em setembro de 2013, com o objetivo de divulgar o karuta competitivo em São Paulo – foram bastante elogiados pela instrutora. O alto nível dos jogadores destacado por ela é fruto das reuniões semanais que acontecem em São Paulo para praticar e trocar experiências. Mais informações em https://meguriaikai.wordpress.com.
Jogo diverte e ensina professores e alunos de japonês
No dia seguinte, domingo, foi a vez dos alunos e professores de diversas instituições.
Na sede da Fundação Japão, um workshop foi realizado primeiramente com os alunos, que puderam experimentar um pouco do universo do karuta através de explicações sobre Hyakunin Isshu.
A atividade é uma das diversas oportunidades oferecidas aos alunos para que possam se familiarizar ainda mais com o idioma e a cultura japonesa, praticando o idioma por meio do jogo.
Após esta primeira parte, que também contou com a presença de integrantes do Meguriai Kai, foi a vez dos professores que vieram até mesmo de outras cidades e estados, como é o caso de Botucatu, no interior de São Paulo, Espírito Santo ou Rio de Janeiro.
Os professores, além de conhecer melhor e se divertir participando das partidas, aproveitaram para discutir com Mutsumi Stone maneiras de incluir o jogo nas aulas de japonês para brasileiros. Agora, todas as ideias coletadas no evento serão trabalhadas para que sejam colocadas em prática na sala de aula o mais breve possível.
Karuta para crianças
A vinda de Mutsumi Stone ao Brasil também serviu para revelar que não só as crianças japonesas mostram interesse pelo jogo. Assim como lá, no Brasil os pequenos puderam se divertir com o Karuta.
A comprovação veio na segunda-feira, dia 18, quando Mutsumi e os dois convidados americanos apresentaram um workshop para crianças da escola de japonês NIC-Nihongo Club. Durante o evento, foi possível perceber que os jogos Chirashidori e Obousan-mekuri também podem ser praticados por crianças, e não apenas pelos adultos.
Tradição japonesa
No Japão, a tradição é que no ano novo as famílias passem jogando karuta. Neste jogo, uma pessoa lê um poema ou provérbio popular, e o jogador que mais rapidamente identificar entre as cartas distribuídas no chão aquela que contém o final do poema ou a primeira letra do provérbio lido, vence a rodada e fica com a carta.
Uma das versões mais antigas e conhecidas deste jogo no Japão é o Hyakunin Isshu Karuta. Como o próprio nome diz, ‘Cem poetas, um poema cada’, trata-se de uma coleção de 100 poemas curtos, conhecidos como ‘tanka’.
O tanka é uma forma tradicional de poesia, composta de cinco linhas com um total de 31 sílabas, agrupadas em linhas de 5, 7, 5, 7 e 7 sílabas.
As primeiras três linhas, compostas de 17 sílabas, são chamadas “kaminoku,” e as demais duas linhas, compostas de 14 sílabas, são chamadas de “shimonoku“. Ao final, agrupadas, as linhas formam uma harmonia perfeita.
O Jogo
Para jogar Hyakunin Isshu Karuta, uma pessoa lê em voz alta o poema enquanto os competidores procuram identificar a carta correspondente entre aquelas dispostas no chão, que contém apenas a segunda parte dos poemas.
Há, também, uma forma mais recente do jogo, o Karuta Competitivo. Trata-se de uma versão mais formal, no formato de torneio, formado por partidas disputadas apenas entre dois competidores.
Para esta modalidade, é imprescindível memorizar todos os 100 poemas, além de ter excelente concentração, memória, reflexos e muita resistência, pois se trata de um jogo difícil, muitas vezes comparado às artes marciais por exigir bastante preparo físico e mental.
As cartas são dispostas lado a lado no tatame, que é dividido em dois campos, um de cada jogador. Com movimentos rápidos e certeiros, cada carta identificada é seguida de uma batida dura e seca com a mão. Neste momento, não é raro que muitas das cartas ao redor levantem voo tamanha a força envolvida no movimento.
A cada partida, metade dos cartões é utilizada, sendo cada jogador responsável por organizar 25 deles à sua frente. Assim, nem sempre o poema lido estará entre os cartões no tatame. Por isso, a concentração deve ser ainda maior.
Para todos os gostos e idades
Hyakunin Isshu Karuta é uma maneira divertida de se familiarizar com a poesia clássica japonesa. Frequentemente incluído nas aulas para crianças do Ensino Fundamental do Japão, o interesse dos jovens no jogo vem crescendo dentro e fora das salas de aula, atravessando fronteiras e chegando a países distantes, como o Brasil.
Chihaya, personagem do mangá Chihayafuru
Este crescimento se deve especialmente ao lançamento do mangá Chihayafuru, que aborda este universo. De lá para cá, crianças e jovens têm se reunido em clubes de Hyakunin Isshu Karuta, motivados pela personagem principal, Chihaya, que ao lado dos amigos atravessa todas as dificuldades das competições. Diversos números do mangá pode ser encontrados, inclusive, na biblioteca da Fundação em Japão, em São Paulo.
As 30 edições já lançadas venderam, juntas, mais de três milhões de cópias. Os fãs também podem se divertir com o anime Uta Koi, que conta a história dos 100 poemas contidos no jogo.
E assim, em meio a jogos, mangás e animes, os poemas clássicos japoneses vêm sendo revitalizados em todo o mundo.
Em breve, os fãs deste jogo serão novamente presenteados com um filme live action, cuja estreia acontece no próximo mês de março.
Eu comecei a ter interesse nesse jogo desde quando vi, pela primeira vez, o anime Chihayafuru há mais ou menos dois anos atrás. Não fazia ideia de que existe um grupo de Karuta competitivo em São Paulo! É uma pena que eu não possa participar por morar em uma cidade tão distante de SP, mas fico muito feliz em saber que ele existe e que houve um evento dessa proporção para divulgar este jogo lindo e divertido!