Agenda
Exposição itinerante “O Poder do Shojo Manga”
Publicado por FJSP em Arte e Cultura Biblioteca 24/01/2019
Exposição “O Poder do Shojo Manga” em Recife
Período: de 7 de janeiro a 7 de fevereiro de 2020
Local: Instituto Ricardo Brennand
Alameda Antônio Brennand, s/n, Várzea, Recife – PE
Visitação:
De terça a domingo, das 13h às 17h.
Última entrada às 16h30.
Os espaços expositivos fecham pontualmente às 17h30.
Informações: (81) 2121-0352 e 2121-0365
Desenhos japoneses revelam olhar feminino através dos mangás
Criada pela professora Masami Toku, a mostra já participou de mais de 50 exposições, sobretudo na América do Norte e Ásia, buscando difundir a arte do mangá Shojo. Tratam-se de reproduções de desenhos produzidos especialmente para mangás japoneses publicados durante os anos 50 e 60.
As obras valorizam as personagens femininas com romantismo, revelando as aspirações das jovens japonesas da época do luxo e da elegância ocidental.
“A mostra revela a beleza do mangá Shojo no Japão e como os papéis das mulheres japonesas mudaram”, explica a professora.
O mangá Shojo nasceu no Japão durante a década de 1950, e teve seu auge no período das décadas de 1960 a 1980.
Dentro da história do mangá Shojo, é possível verificar algumas mudanças, especialmente após a década de 1970, quando o arquétipo de personagens femininos passava a ter olhos grandes que preenchem metade do rosto, geralmente usando fitas e flores em seus cabelos.
Para Miyako Maki, mangaká de mangá Shojo, aquele foi um período de extrema pobreza, em que os desenhos revelavam um mundo de sonhos. Maki desenhava, na época, roupas que gostaria que as garotas usassem, e não as roupas remendadas que eram comuns na época.
Após esse período, os temas do mangá Shojo se estenderam de romances a histórias de época, aventura e até ficção científica. Foi um período de autorrealização das protagonistas, que se tornaram o tema central das histórias, que passaram a atrair ainda mais as jovens leitoras.
Já nos anos 90, o Shojo Manga passou a se aproximar mais do Shonen Manga, que são os mangás voltados para jovens leitores masculinos. A partir dali, os personagens principais passaram a apresentar características únicas, em enredos que incluem mitos e lendas japonesas e até mesmo o amor entre dois rapazes.
Os artistas
1º PERÍODO
Osamu Tezuka
(03/11/1928 – 09/02/1989)
Osamu Tezuka foi criado como o mais velho de três filhos numa família de mente aberta, lendo mangá e assistindo a filmes animados, o que estimulou sua imaginação e inteligência. Ele também adorava ler livros sobre insetos. As suas experiências de guerra quando criança, fizeram ele desenvolver um respeito pela vida humana e por isso queria se tornar um médico. Matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Osaka em 1945. Na faculdade, continuou interessando-se pelo mangá e começou a publicar sua primeira série, Jungle Taitei, na revista Manga Shonen, em 1950. Ele se formou em medicina em 1951, mas nunca chegou a exercer a carreira, ao invés disso, tornou-se um mangaka profissional e produtor de animação.
Tezuka influenciou muito as mentes dos jovens do Japão pós-guerra do que qualquer outro artista. Como um artista versátil, escreveu mangá tanto para meninos como para meninas, e foi a influência principal sobre os primeiros artistas de mangá shojo. Tezuka mudou o conceito de mangá no Japão, criando um novo estilo de expressão influenciado pela narrativa dos filmes. Ele pegou a forma predominante de tirinha de quadrinhos e a expandiu criando história em mangá. Como resultado, sua influência foi além do mangá, para a literatura e o cinema.
Além de ser um gigante no mundo dos mangás, Tezuka também tem sido um animador altamente influente. Em 1961, criou um departamento de animação na sua empresa, a Tezuka Osamu Productions. Aqui ele criou a primeira série de animação japonesa Astro Boy (em preto e branco), assim como a primeira série de animação colorida Jungle Taitei e o popular filme de duas horas Banda Book. Estas séries extremamente populares abriram novos caminhos para o sucesso da animação de TV no Japão. Desde 1963, o trabalho de Tezuka é exportado para os Estados Unidos, Europa e outros países asiáticos, entretendo e estimulando a imaginação de gerações de crianças. Em 1980, com o apoio da Fundação Japão, viajou para os Estados Unidos como missionário do mangá, ministrando palestras sobre a cultura do mangá japonês nas Nações Unidas (ONU) e em muitas universidades por todo os Estados Unidos.
Morreu em 9 de fevereiro de 1989, aos 60 anos de idade. Ao longo de sua vida, ele permaneceu um pioneiro e um visionário, um apaixonado pela vida e pela arte. Seu respeito e amor pela vida é evidente em todo os seus trabalhos.
Masako Watanabe
Nascida em 16/5/1929 (Tóquio)
Estreou em 1952, ilustrando para o encadernado “Shokoushi” (Wakagi Shobo). Continua até hoje contribuindo para o avanço do mangá shojo como gênero, e ainda atua no cenário com grande vigor. É uma das maiores veteranas dentre as autoras de mangá shojo. Tem 64 anos de carreira, sendo uma das mangakás de maior influência para as que vieram nas gerações seguintes.
Watanabe é uma mestra do terror e do romance com mistério. Obras como “Glass no Shiro” (1969) e “Sei Rozalind” (1973), por exemplo, trazem histórias assustadoras que são coloridas em tons pastéis, e reproduzidas em telas suaves e leves, num estilo ocidental. Essa discrepância entre roteiro e arte certamente ajudou a atrair leitoras.
Além disso, desde o início, várias de suas obras como “Mimi to Nana” (1962) e “Sakurako Sumireko” (1965) usam gêmeos como tema. Existe toda uma linhagem temática de gêmeos, dentro do mangá shojo, mas avalia-se que a influência de Watanabe nela foi grande. Uma de suas características é usar tonalidades suaves como rosa, azul claro e bege nas suas ilustrações coloridas, desde o início da carreira. Trazer cores refinadas, em meio às revistas de shojo da época que faziam uso frequente de cores primárias, como vermelho e verde, fez com que ela ficasse ainda mais em evidência.
Desde a segunda metade da década de 70, passou a trabalhar com frequência em mangás voltado para o público feminino adulto, e em obras como “Akujo Series” (1979) e “Kinpeibai” (1993-2001), continua a explorar a verdadeira natureza da humanidade. Os elementos que atraem as leitoras às obras de Watanabe podem ser vistos por toda ela, como o erotismo e a crueldade que se esconde no fundo dos corações de todos nós. Ela é uma artista rara que continua merecendo cada vez mais atenção.
Leiji Matsumoto
Nascido em 25/1/1938 (Fukuoka)
Estreou em 1954, com “Mitsubachi no Bouken”, publicado na revista “Manga Shonen”. Durante seus primeiros anos de carreira, trabalhou na “Mainichi Shogakusei Shinbun Kansaiban”. Inicialmente, assinava como Akira Matsumoto, seu nome verdadeiro.
Desde 1957 lançou vários mangás shojo, focando-se nas revistas voltadas para o púiblico feminino juvenil. “Akuma no Me to Tenshi no Me” (1957), “Aoi me no Mary” (1958/posteriormente renomeado para “Hoshi yo, Kienaide”), “Gin no Tani no Maria” (1958) foram algumas das obras que, de forma incomum aos mangás shojo da época, eram obras de fantasia ou suspense, com fortes notas de mistério, o que se tornaria uma das especialidades do autor.
Além disso, desde sua estreia, a graciosidade com que desenhava insetos e animais se sobressaiu do resto. Em “S no Taiyou” (1965) , “Sono Na wa Teth” (1967) , e “Hashire Friend” (1967), criado em parceria com Miyako Maki e assinado como “MM Pro”, ele exibiu essa habilidade de forma plena. Em “Es no Taiyo” aparece um gato chamado Mi-kun, e ele foi desenhado tendo como modelo um gato que o próprio Matsumoto criava. Ele aparece em várias outras obras posteriores, e é amado pelos seus leitores. Outros personagens criados por Matsumoto, como Harlock e Queen Emeraldas, aparecem em várias de suas obras e também são populares, tornando o “Matsumoto World” tão único.
Posteriormente, ele passou a atuar em revistas shonen e seinen onde lançou “Uchuu Senkan Yamato” (1974), “Ginga Tetsudo 999” (1977), “Uchuu Kaizoku Captain Harlock” (1977), ficando famoso por criar animações de ficção científica. Outras de suas obras importantes são “Otoko Oidon” (1971), “Senjo Manga Series” (1974/Ano de lançamento do primeiro volume encadernado), dentre outras.
Hideko Mizuno
Nascida em 29/10/1939 (Yamaguchi)
Estreou em 1956 com “Akakke Kouma (Pony)”, publicado na revista “Shojo Club”. Foi uma das pioneiras da revolução dos mangás shojo que aconteceu na década de 70. É uma das mangakás que veio da “Tokiwa-sou”.
Seu estilo era o de combinar o desenvolvimento audacioso das histórias dos mangás shonen, com a delicadeza e romantismo dos mangás shojo, e ele foi o responsável por dar às leitoras, que liam mangás shojo e shonen como duas coisas diferentes, a oportunidade de viver aventuras ainda como meninas. Desde sua estreia, a graciosidade dos personagens que ela desenhava se sobressaía. Em “Hoshi no Tategoto” (1960), obra importante do início de sua carreira, é uma história fantástica inspirada na mitologia nórdica. Seus personagens masculinos são descolados, mas também comportam uma tristeza, e os elementos de romance, representados numa era em que ainda não era possível representá-los de forma aberta também são muito importantes. Essa preferência era o que as suas autoras calouras mais admiravam e buscavam alcançar.
Ela lançou “Hoshi no Tategoto”, uma fantasia mitológica; “Shiroi Troika” (1965), um romance histórico; as comédias românticas “Suteki na Cola” (1963), “Konnichiwa Sensei” (1964), “Honey Honey no Sutekina Bouken” (1966), a aventura rock da juventude “Fire!” (1969), entre outros. Por ter conquistado sucessos em qualquer gênero, ela se tornou uma autora clássica de mangás shojo. “Fire!” foi sua primeira obra de sucesso em que o protagonista era masculino. Seu universo, com uma vibrante representação do rock e permeado por um clima de forte estética, ajudou a preparar o terreno para a moda de mangás shojo com protagonistas masculinos que viriam a seguir.
Outras de suas obras importantes são “Ludwig II” (1986), “Elizabeth” (1993), dentre outras. Ela também criou várias histórias curtas, como “Cecilia” (1964), “Nire Yashiki” (1964), e “Take no Hana” (1967), mas infelizmente o acesso a elas é cada vez mais difícil hoje em dia.
Miyako Maki
Nascida em 25/7/1935 (Hyogo)
Estreou em 1967 no volume encadernado no estilo kashi-hon “Haha Koi Waltz” (Tokodo). Dentre suas obras expressivas no gênero de mangá shojo estão “Shojo Sannin” (1958), “Maki no Kuchibue” (1960), “Ribon no Waltz” (1963), “Gin no Kagero” (1968), entre outras. Numa época em que aumentavam o número de mangás shojo com ambientação ocidental, ela foi no sentido contrário, especializando-se em representar a beleza reservada das garotas japonesas.
Suas histórias tratavam da situação difícil em que as garotas foram deixadas no Japão ainda empobrecido durante o pós-guerra, ainda adicionando belos sonhos a elas – o que capturou os corações das moças da época e não os soltou. Em “Maki no Kuchibue”, por exemplo, é contada a história de Maki, uma garota que ama jogar vôlei e que depois de passar por várias experiências, passa a morar com a atriz Miyuki Tani, que ela descobre ser sua verdadeira mãe. A obra fez tanto sucesso, que “Maki no Kuchibue” até ganhou um fã-clube. Houve também uma promoção em que uma das leitoras ganharia de presente a roupa criada por Miyako Maki e usada por Maki, a protagonista, em uma das capas do mangá. Esse é o nível em que o universo da obra que ela criou tornou-se uma fantasia que era a extensão da vida das leitoras.
Além disso, é famoso o fato de que “Licca-chan”, a boneca de troca de roupas produzida pela Takara, foi feita tendo como base os desenhos das garotas de Maki. Essa fama firme e duradoura é um testamento a como a iconografia trazida por Maki, dos olhos de pupilas grandes e proporções adoráveis e delicadas, combinou perfeitamente com o coração das garotas japonesas.
Desde ainda muito cedo, no final da década de 60, Maki começou a lançar mangás voltados para mulheres adultas, e hoje é uma das autoras que mais contribuiu para o mangá shojo ter se expandido de forma tão vasta e rica na atualidade. Dentre seus mangás Josei mais importantes estão “Himon no Onna” (1972), “Seiza no Onna” (1972), “Akujo Bible” (1984/Roteiro: Esuko Ikeda), e “Genji Monogatari” (1986), dentre outros.
2º PERÍODO
Machiko Satonaka
Nascida em 24/1/1948 (Osaka)
Estreou em 1964 quando “Pia No Shozo”, mangá que ganhou o 1º Prêmio Kodansha de Novos Mangás no mesmo ano, foi publicado na edição 36 da revista “Shukan Shojo Friend”. Como uma representante do mundo dos mangás, lutou para elevar a posição dessa mídia dentro da sociedade. Também chamou atenção por ter estreado com apenas 16 anos, quando ainda estava no ensino médio. Ela contagiou diversas garotas que sonhavam em ser autoras de mangá na mesma geração, e provocou uma explosão de muitas mangakás talentosas.
Entre suas principais obras estão “Ashita Kagayaku” (1972), “Aries no Otometachi” (1973). O tema de suas obras é consistentemente o “amor”. Seja o amor de uma garota, o amor adulto, o amor que não se importa com a morte, a alegria e a tristeza provocados pelo amor, e de modo geral a importância de se amar é representada de forma sincera e direta.
Além disso, outro dos temas abordados por Satonaka é o “crescimento”. Ela sempre se posicionou contra os padrões de juventude e inocência que os homens procuravam nas mulheres, e sempre apoiou, do fundo do coração, que as mulheres deveriam crescer e amadurecer. Por isso, ela acabou contribuindo muito não só para o desenvolvimento do mangá Shojo, mas também no dos mangás para mulheres adultas. Dentre as principais obras para o público mais maduro estão “Akujo Shigan” (1977) e “Karibito no Seiza” (1979). “Tsurukame Waltz” (1997) tem como tema a velhice, e também consegue captar parte dessa representação do que é o amadurecimento humano. Ela ainda tem grande habilidade em abordar temas de época e novelas que retratam eventos históricos. Pode-se dizer que é por causa disso que ela consegue capturar o crescimento e o amadurecimento humanos com grande visão. “Asunarozaka” (1977) e “Tenjo no Niji” (1983), que continua em publicação até hoje diretamente em volumes encadernados, são obras importantes nessa temática. São histórias e construções de cenas fascinantes, que permitem ao leitor uma leitura e compreensão fáceis de eventos históricos e um grande número de personagens.
Atualmente, como professora da Universidade de Artes de Osaka, ela atua como representante não só do mundo dos mangás shojo, mas de todos os mangás, transmitindo seu valor e significado. São grandes as suas contribuições.
Suzue Miuchi
Nascida em 20/2/1951 (Osaka)
Estreou em 1967, com a publicação de “Yama no Tsuki to Kodanuki to”, na edição de outubro da revista “Bessatsu Margaret”. É uma mestra da narrativa, que leva seus leitores numa montanha russa de emoções. O fator de diversão das suas histórias, passado para as gerações seguintes, já é algo lendário. “Harukanaru Kaze to Hikari” (1973), por exemplo, tornou-se o ponto de partida para que a revista “Bessatsu Margaret” começasse a publicar histórias de longa duração, mesmo que até ali se restringisse apenas a one-shots. Ainda há o caso de “Garasu no Kamen”(1976), que mesmo estando em publicação contínua por 40 anos na “Hana to Yume”, revista em que Miuchi passou a atuar, sempre tem seus volumes encadernados esgotados assim que chegam nas livrarias – as anedotas são várias.
“Garasu no Kamen” conta a história de Maya Kitajima, uma garota comum e que não chama a atenção. Ela demonstra talento para o teatro e treina arduamente com sua rival Ayumi Himekawa, e evoluem enquanto disputam entre si para apresentarem a lendária peça “Kurenai Tennyo”. Um de seus pontos fascinantes é como, sendo uma obra que fala de teatro, existem atuações dentro de atuações, assim havendo várias tramas se desenrolando dentro de um único roteiro. Além disso, na época já haviam vários mangás Shojo que retratavam o romance com homens, mas ela ganhou atenção por retratar de forma elaborada as relações de rivais e mestra e discípula do mesmo sexo.
Pode-se dizer que o trabalho em diversas histórias curtas, no começo de sua carreira, foi o que lapidou o talento de Miuchi para a narrativa. Como uma das autoras principais da “Bessatsu Margaret”, desafiou-se a trabalhar com comédias românticas, aventuras, fantasia e diversos outros gêneros. Dentre eles, as mais impressionantes são obras de terror como “13-Gatsu no Higeki” (1971), “Majo Media” (1975), e “Shiroi Kageboshi” (1975). A maestria do roteiro, com suas cenas chocantes, lança os leitores de uma vez às profundezas do horror e merecem ser mais conhecidas, ainda hoje. Dentre outras de suas obras importantes estão “Julietta no Arashi” (1973), “Amaterasu” (1986), e “Yokihiden” (1986).
Miuchi também participa de ações sociais. Um deles é o “Yoshibune Project”, projeto que mistura entretenimento com questões ambientais e que usa o caniço, uma planta com grande papel no meio ambiente, para produzir barcos, flautas e outros.
Moto Hagio
Nascida em 12/5/1949 (Fukuoka)
Estreou em 1969 com “Ruru to Mimi”, publicado na edição extra de verão da revista “Nakayoshi”. Está entre as autoras de mangá que trouxe uma grande revolução ao gênero do mangá shojo, durante a década de 70.
A década de 70 foi a época em que o “Mangá Shojo” passou por um novo processo de reconhecimento, sendo visto não mais apenas como um gênero voltado para jovens do sexo feminino, mas sim como um gênero que trata em amplitude das questões do coração humano. E Hagio contribuiu grandemente para esse movimento.
Hagio trabalhou a mentalidade das pessoas que vivem na era atual, com representações psicológicas sutis, aliadas a capacidades artísticas de estruturação claras. Isso fez com que, a partir dos mangás Shojo, as possibilidades de expressão do mangá como mídia se expandissem, gerando uma influência enorme nas gerações seguintes.
Suas diversas obras de ficção científica, como seu famoso mangá “11-nin Iru!”, trouxe uma grande atualização para a categoria de mangás Shojo, e conduziu o gênero em si para um nível muito mais abrangente e profundo. Como outro ponto que não pode ser ignorado quando se pensa na evolução posterior do Mangá Shojo como gênero, está o fato de que no já mencionado “11-nin Iru!”, apesar de saber-se que aparecem personagens cujo gênero é incerto, também considera-se que em vários momentos da obra ele exibe dentro da história vários pontos de vista em que os papéis de gênero são reconsiderados. Além do romance fantástico com vampiros “Poe no Ichizoku” (1975), ela possui diversas obras de importância como “Thomas no Shinzou” (1974), “Star Red”(1978), “Gin no Sankaku” (1980), “X+Y” (1984), “Marginal” (1985), “Zankoku na Kami ga Shihai Suru” (1992-2001), “Barbara Ikai” (2002-2005), dentre outros.
Hagio é chamada de “A Mãe do Mundo do Mangá Shojo”, e ainda hoje é uma das artístas líderes desse universo, continuando a transmitir mensagens sobre a sociedade de maneira ora silenciosa, ora forte, através das suas obras. Dentre elas existe “Nanohana” (2011), que atua como antítese ao uso da energia nuclear. Além disso, ela voltou aos holofotes em 2016 quando foi lançada a continuação de “Poe no Ichizoku”, muito esperada pelos fãs.
Fusako Kuramochi
Nascida em 14/5/1955 (Tóquio)
Estreou em 1972 com a publicação “Megane-chan no Hitorigoto”, obra que ganhou medalha de ouro na Manga School da revista “Bessatsu Margaret”, na edição de outubro dessa mesma revista. Depois disso, continuou apoiando a revista lançando diversas obras de romance altamente refinadas, como “Itsumo Pokketo ni Chopin” (1980), “Iroha ni Konpeito” (1982), “A-GIRL” (1984), “Kiss+πr²” (1986), dentre outras.
Kuramochi veio desenhando consistentemente o que pode ser dito que é o romance clássico dos mangás Shojo atuais. Porém nas mãos dela, histórias que parecem mundanas quando se ouve a trama, como “romance entre amigos de infância”, passam a nos provocar emoções e um senso de simpatia revigorantes, como quando nós mesmas estamos apaixonadas.
O que dá base para essas emoções revigorantes são as técnicas altamente elevadas que ela possui, no que tange a produção de mangá. Na construção hábil e atenta aos detalhes das falas, na representação inteligente das emoções, nos quadros que se espalham por toda a obra, e na capacidade de construção e estruturação do roteiro. Além disso, Kuramochi é reconhecida pelo charme descolado com que desenha seus protagonistas masculinos. Outra de suas características é que esse estilo muda, dependendo da obra.
Entrando nos anos 90, mudou seu meio de divulgação para a revista “Chorus”, lançando “Tennen Kokekko” (1997-2000). “Tennen Kokkeko” se passa num pequeno vilarejo e gira em torno da história de amor entre Soyo, uma menina local, e Osawa, jovem que se mudou de Tóquio para lá. Na obra, as outras pessoas da vila são representadas com muita atenção, amor e perspicácia, apresentando uma performance de grupo de grande profundidade. Em 2007, 7 anos após o fim da publicação, a série foi transformada em filme. Isso mostra como essa é uma obra que não perde seu frescor.
Akimi Yoshida
Nascida em 12/8/1956 (Tóquio)
Estreou em 1977 com “Chotto Fushigi na Geshukunin”, publicado na edição de março da revista “Bessatsu Shojo Comic”. Desde o início, chamou a atenção pela representação dos corpos dos personagens em proporções realistas, como os olhos pequenos, algo que pode ser considerado divergente dos mangás Shojo. Essa “representação realista” também inclui aspectos psicológicos dos seus personagens.
“Banana Fish” (1985) e “Yasha” (2002), dentre outros, são impressionantes por serem repletos de cenas de ação, com histórias que tratam de assuntos intensos e repletos de emoções. São assuntos e ambientes de uma linha mais dura, como o mundo da máfia nova iorquina e biotecnologia, mas mesmo em cenários distantes do cotidiano, os protagonistas ainda vivem encarando a realidade.
Por outro lado, em “Kawa yori mo Nagaku Yuruyakani” (1983) e nos recentes “Semi shigure no Yamu Koro” e “Umimachi Diary” (ambos de 2006), são mostradas paisagens do dia-a-dia. Nessas, é desperta no leitor a lembrança de pessoas próximas, e é evocada a simpatia por ver algo que poderia acontecer a si próprio. Sente-se na pele a importância de se viver na realidade. “Umimachi Diary” virou filme em 2015, pelas mãos do diretor Hirokazu Koreeda, e ganhou notoriedade por ter ganhado um Prêmio da Academia Japonesa.
Em obras como “California Monogatari” (1978) e a já mencionada “Banana Fish”, um dos grandes atrativos é a forma com que é retratada uma forte relação entre rapazes, que não é claramente nem amizade, nem romance. Além deles, “Kissho Tennyo” (1984), assim como “Sakura no Sono” (1985), são obras importantes por mostrarem mulheres que comportam ao mesmo tempo dentro de si, severidade e delicadeza.
“Sakura no Sono” é uma obra em formato Omnibus, e conta a história de garotas que fazem parte do clube de teatro em um colégio feminino cuja tradição é encenar a peça “O Jardim das Cerejeiras”, de Tchekhov, sempre no aniversário de sua fundação. É uma obra-prima, e mostra os sentimentos das garotas de forma brilhante. O diretor Shun Nakahara o adaptou para o cinema em 1999, sendo muito bem recebido. A adaptação foi refeita em 2008, pelo mesmo diretor.
3º PERÍODO
Reiko Okano
Nascida em 24/06/1960 (Ibaraki)
Estreou em 1982 com “Ester Please”, publicado na revista “Petit Flower”. Possui diversas obras de renome como “Fancy Dance” (1984), que mostra o treino de um monge para suceder um templo; “Ryougoku Oshare Rikishi” (1989), que fala do mundo do sumô; e “Onmyouji” (Autor original: Baku Yumemakura/1993) que conta a vida do Onmyoji lendário Abe no Seimei. A autora aborda temas ligeiramente retrô e diferenciados – como monges, sumô, onmyodô – para oferecer à era atual uma experiência de leitura revigorante e cheia de charme. Sua popularidade é tamanha que esses temas sempre caem na boca do povo, e tornam-se febres.
Como ela usa tanto revistas femininas como masculinas como meio de divulgar suas obras, há um pouco de dúvida se é adequado categorizar suas obras como Mangá Shojo, mas pode-se ver o rico sentimento poético cultivado pela mídia voltava a mulheres na beleza graciosa com que os personagens se comportam, na construção de telas refinadas e similares a pinturas, e um desenvolvimento de história com forte foco na atmosfera das cenas. O estudo do ato de criar é outro traço característico de Okano. “Youmi Henjouyawa” (1995-) por exemplo, tem arte feita a lápis e é um trabalho brilhante, que começou como uma obra cômica ambientada no Mundo Ancião da Dinastia Tang.
Quando ela escolhe um tema, dedica-se o máximo possível a esse mundo num processo de criação rico em pesquisa e experiências pessoais, emitindo todo o conhecimento obtido nele. A posição dela é como se a própria fosse uma “médium”, e isso se liga à sua grande sede de quem tem o desejo de compreender todo o universo que pode ser vista de forma proeminente, especialmente nas obras posteriores a “Onmyoji”. Depois, ela tratou da dança do ventre em “Inanna” (2007-2010), e nessa obra parece querer nos induzir a um mundo ainda mais físico. Em 2011 começou “Onmyoji Tamatebako”, que pode-se dizer ser uma nova série de “Onmyoji”. A história avança através da leitura de pergaminhos que estavam guardados em uma pequena caixa de Makuzu, a esposa de Abe no Seimei.
Ichiko Ima
Nascida em 11/04 (Toyama)
Estreou comercialmente em “My Beautiful Green Palace”, publicada na “Comic Image Vol. 6”. Antes de sua estreia comercial, fez parte do Grupo de Pesquisa em Mangá da Univerdade Cristã da Mulher de Tóquio, sob a liderança de Kumi Morikawa, atuando como assistente de Ryoko Yamagishi, Nanae Sasaya e outras por mais de 10 anos, enquanto lançava seus doujinshi. Acredita-se que suas técnicas firmes tenham vindo dessa experiência. Sua capacidade é assunto entre os fãs de mangá desde sua época de doujinshi.
As ilustrações coloridas, com sua beleza que transmitem uma ideia de “quietude deslumbrante”, captam o coração de quem as vêem. Suas ilustrações comportadas, criadas com combinações de cores fortes, passam um clima único. Essa “quietude deslumbrante” existe não só nas ilustrações, mas também nas palavras que representam os universos de suas obras como um todo. Mesmo evocando um universo de imagens esplendorosas, numa história em que o protagonista é um belo rapaz com uma aura sobrenatural, e uma trama fantástica que se passa em outro mundo,há um ar de nobreza e silêncio que permeia todas as suas obras.
“Hyakki Yakoushou” (1995), uma de suas obras mais famosas, mostra diversos casos que ocorrem em torno de Ritsu, um garoto que acaba vendo criaturas que não são de nosso mundo. Na história, nossa visão se volta para o mundo das trevas, sentindo amor e fascinação, juntamente com o medo. Ali continua respirando um sentimento que nos escapava, que é o de viver não só pela lógica, mas também tendo que estar de acordo com os absurdos que a natureza possui.
Como uma autora de grande talento, e que aborda vários temas, também lançou obras de Boys Love como “Otona no Mondai” (1995), “Boku no Yasashii Oniisan” (2005), e obras ambientadas em reinos de fantasia, como “Suna no Ue no Rakuen” (1996), e “Touzoku no Mizuzashi” (2005). É conhecida por ser amante de calafates, e sua obra “Bunchousama to Watashi”, um ensaio nos moldes de um diário de observação, também fez sucesso.
Fumi Yoshinaga
Nascida em 1971 (Tóquio)
Depois de produzir doujinshi, estreou comercialmente com “Tsuki to Sandaru”, publicada na revista “Hanaoto” em 1994. Dentre suas obras de maior destaque estão “Seiyou Kottou Yougashiten” (1999-2002), “Flower of Life” (2003-2007), e Ooku (2004-).
As obras de Yoshinaga não apontam um sucesso inquestionável, mas sim reconhecem, graciosamente, nosso próprio cotidiano comum. Há um grande tema que passa por todas as suas obras, ainda que de forma oculta, que é o de louvar a atitude das pessoas com relação à vida.
Ooku, sua obra mais recente, se passa em uma Era Edo fantasiosa, onde o número de homens no mundo diminui drasticamente devido a uma doença desconhecida, e os papeis masculino e feminino na sociedade são trocados. Ao ler essa obra, o leitor inconscientemente é levado a pensar sobre como funcionam os gêneros na sociedade atual. Isso deve ser influenciado pela noção da própria autora de que a condição da mulher na sociedade é subjetiva. Indo mais a fundo, não há de se esquecer o fato de que autora veio do gênero “Boys Love”. Isso porque ela apresenta um aspecto que nasce da mentalidade de uma mulher que, por vir desse gênero, traz uma estranheza com relação às relações entre homem e mulher convencionais (no sentido de serem “comuns”).
Seus quadrinhos possuem um ritmo único que absorve seus leitores, onde ora os personagens têm falas longuíssimas, ora há páginas sem fala alguma.
Ela ainda tem grandes séries e histórias curtas, como “Ichigen-me wa yaruki no minpou”, “Gerard to Jacques”, “Kodomo no Taion”, “Sore wo Ittara Oshimaiyo”. Na coletânea de conversas “Ano Hito to Kokodake no Oshaberi”, ela ainda mostra seu talento como uma habilidosa crítica de mangá.
A exposição foi realizada nas seguintes cidades:
• Rio de Janerio – RJ
2º Rio Matsuri (25 a 27/1/2019)
• Belo Horizonte – MG
8º Festival do Japão em Minas (22 a 24/2/2019)
• Rio de Janeiro – RJ
Centro Cultural da UERJ (15/3 a 11/4/2019)
• Brasília – DF
8º Festival do Japão Brasília (28 a 30/6/2019)
• Maringá – PR
30º Festival Nipo Brasileiro da ACEMA (2 a 11/8/2019)
• Rio de Janeiro – RJ
XIX Bienal Internacional do Livro RIO (30/8 a 08/9/2019)
• Rio de Janeiro – RJ
LER 2019 – III Salão Carioca do Livro (20 a 29/11/2019)
• Recife – PE
Instituto Ricardo Brennand (7/1 a 7/2/2020)
Serviço
Exposição “O Poder do Shojo Manga” em Recife
Período: de 7 de janeiro a 7 de fevereiro de 2020
Local: Instituto Ricardo Brennand
Alameda Antônio Brennand, s/n, Várzea, Recife – PE
Visitação:
De terça a domingo, das 13h às 17h.
Última entrada às 16h30.
Os espaços expositivos fecham pontualmente às 17h30.
Informações: (81) 2121-0352 e 2121-0365
Não virá para São Paulo??