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O Zen na Cultura Japonesa

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Fernando Carlos Chamas
Já durante a graduação em 1997 – para Bacharel no Curso de Língua, Literatura e Cultura Japonesa do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – Fernando Chamas realizava, em paralelo, iniciação científica em Escultura Japonesa da pré-história até a Escultura Budista Clássica Japonesa com os apoios da Província de Toyama (1998 a 2002) e da Fundação Japão. Estes estudos foram aprofundados durante o Mestrado no mesmo Curso entre 2002-2006, o que resultou no primeiro livro nacional sobre o assunto: Escultura Budista Clássica Japonesa: da sua introdução até o século XII, apenas lançado em 2021. Viajou ao Japão como pesquisador convidado pela Universidade de Kanagawa em janeiro de 2005. Até nos dias de hoje, se dedica a ensaios, palestras e cursos sobre diversos temas referentes ao Budismo, analisando sua mitologia, seus ensinamentos e sua influência sobre a Cultura Japonesa. As publicações se encontram em revistas e anais. Participou da tradução do livro Tempo e Espaço na Cultura Japonesa de Shūichi Katō em 2012 e escreveu um terceiro livro, Zenga: A pintura Zen (2019).

 

E-mail: fernandocarloschamas@gmail.com

 

Palavras-chave: Taoismo, Xintoísmo; Budismo; Zen; Cultura Japonesa.

 

Resumo:

Caí no lago em busca do satori.  悟りを求めて池に落ちた。
Muitos monges japoneses do Zen transmitiram os ensinamentos por meio de várias formas de expressão além da fala, visto que a fala não é o modo ideal, desde sua origem, mas afinal era para o povo iletrado, não para os nobres, que financiavam o Budismo até então. O olhar fixo do sapo gordo acima parece conhecer quem o vê, mas, ao contrário, tem relação com um conceito chamado sabi 寂び “de uma graça velha e venerável”. É uma expressão de experiência e empatia com tudo o que existe, vive e morre, acima das aparências mundanas. O “sapo-sábio” estaria entre o povo, sem querer chamar a atenção, mas sua presença é paradoxal: incomoda e ilumina, como monges e monjas com manto típico e cabeça raspada. Além dessa presença de espírito, havia outras formas de tornar o Zen presente na ausência do monge. Entre as mais conhecidas, a pintura, a cerimônia do chá e o jardim de pedras. Também é perceptível no ikebana, na caligrafia, no teatro, na música, na cerâmica e na luta com espada. A pintura Zen foi analisada no livro Zenga, mas sua apreciação ainda depende da compreensão daquelas outras formas, pois elas dão sentido mútuo ao conjunto. A princípio, ser um mestre Zen é ser capaz de passar a sabedoria do Zen sem palavras, mediante uma conexão desenvolvida em parte pela meditação. Desde o início da difusão do Zen, já se tem a compreensão essencial de que seu principal treinamento é a meditação, mas os monges japoneses com habilidades artísticas colocaram o Zen na arte, ou a arte no Zen, somando o ideal de meditar antes e durante a obra e depois sobre a mesma, e até ganhando dizeres poéticos. Claro que isso acontece diante de qualquer obra de arte e como cada um particularmente se comunica com você. Mas em se considerando as que nasceram do Zen, os fatos históricos e os princípios que norteiam essa então chamada “arte Zen” podem, sim, ajudar. Mas explicar tudo isso é um campo tão árduo como a própria vida monástica num templo. Aconteceu que os monges japoneses receberam um Budismo inicial no século VI com a visão do Taoismo que se juntou ao Xintoísmo, e depois, no século XII, recebeu o Zen, e os japoneses empregaram a prática Zen nas suas formas de arte já tradicionais a tal ponto que essas se tornariam ícones da tradição japonesa e muito caracterizou o modo como o Japão é visto pelo Ocidente até hoje. Suas artes tradicionais foram tocadas pelo Zen durante séculos e desafiaram o próprio sentido do que é arte, e devido à sua grande difusão, influência e aceitação na sociedade japonesa, as artes japonesas são, em parte, generalizadas como sendo Zen.

 

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