Eunice Suenaga – Ginkgo, arquitetura e trens: seguindo as pistas de Tsukuru Tazaki
Tradução em Foco > Eunice Suenaga
Ginkgo, arquitetura e trens: seguindo as pistas de Tsukuru Tazaki
Marquei uma consulta com a minha dentista depois de mais de um ano e, numa manhã fria no início de dezembro, desci na estação de Jiyûgaoka onde fica o seu consultório.
Caminhando pelas ruelas e calçadões com enfeites natalinos e árvores de ginkgo com folhas amarelas, lembrei-me de Tsukuru Tazaki. Será que ele também tem caminhado por essas ruelas e visto esses enfeites? Será que ainda está com Sara Kimoto?
Tsukuru é o personagem de O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, de Haruki Murakami. No romance, ele mora sozinho em um apartamento em Jiyûgaoka, e Sara Kimoto é sua namorada. Quando o seu amigo Haida visita o apartamento pela primeira vez, fica surpreso e pergunta: “Como é que, sendo estudante, você consegue morar em um apartamento tão luxuoso como esse?” (p. 55). Tsukuru explica que o imóvel pertence à empresa de seu pai.
No final, Tsukuru Tazaki jamais se mudou desse apartamento de um quarto em Jiyûgaoka. Mesmo depois de se formar e começar a trabalhar em uma companhia ferroviária cuja matriz fica em Shinjuku, continuou morando no mesmo lugar. O pai faleceu quando ele completou trinta anos, e o apartamento passou a ser oficialmente dele. (p. 56)
No original em japonês, o apartamento onde Tsukuru mora é chamado de manshon, como são conhecidos os apartamentos de prédios de concreto armado de vários andares, que lembram os apartamentos do Brasil. Haida fica surpreso porque os estudantes japoneses costumam morar em apaato, apartamentos de prédios de construção em madeira geralmente de até dois andares, com aluguel mais barato. Quando foi desenvolvido como um bairro residencial no começo do século passado, Jiyûgaoka era considerado subúrbio de Tóquio, mas hoje é um bairro badalado, com várias lojas, restaurantes e cafés elegantes, ficando relativamente próximo ao centro de Tóquio, a dez minutos de trem de Shibuya. Apesar de ter só um quarto, o apartamento de Tsukuru deveria ser luxuoso para os padrões dos estudantes japoneses.
Aproveitando que estava em Tóquio, resolvi passear também em Shinjuku, onde Tsukuru trabalha e onde ele gosta de observar os trens, e em outros lugares por onde ele pode ter passado.
Eunice Tomomi Takahaschi Suenaga
Neta de japoneses, nasceu no interior de São Paulo. Cursou Letras-Japonês e Português na FFLCH, USP. Mestre e Doutora em Literatura Clássica Japonesa pela Graduate School of Arts and Sciences, Universidade de Tóquio. Leciona no Tokyo Institute of Technology como professora de tempo parcial. Traduziu O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, Homens sem mulheres, Romancista como vocação e Pássaro de corda, todos de Haruki Murakami.