Felipe Monte – O interesse por tradução e os primeiros trabalhos
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Foi nas aulas de literatura japonesa na faculdade que comecei a pegar gosto pela tradução. Nós tínhamos que ler e traduzir trechos de Genji Monogatari e outros contos japoneses e essa era uma das minhas atividades favoritas. Daí, foi só um pulo pra começar a traduzir mangás de forma amadora. Creio que diversas pessoas da minha geração que hoje trabalham oficialmente com animes e mangás tiveram essa mesma “fase” de participar de grupos de scanlation ou fansubs. É quase que um rito de passagem. Mas deixo pra uma outra oportunidade pra falar dessa relação dos mangás e a pirataria.
Em 2008, antes mesmo de sair da faculdade eu já estava dando aulas de japonês em um curso de idiomas que tinha um método bem questionável (o aluno só entrava em contato com hiragana e katakana depois de um ano e meio de curso!!). Foi desse curso e de aulas particulares que tirei meu sustento por alguns anos. A vontade de traduzir mangás profissionalmente só aumentava com o passar do tempo e com o crescimento do mercado. Já em 2009 eu quase peguei um trabalho pra traduzir um livro de uma série de mangás didáticos, mas o trabalho não foi pra frente porque eu simplesmente não soube precificar de forma justa o meu trabalho. Quando eu lembro disso não consigo não dar risada porque eu realmente exagerei nos valores… Foi até melhor assim, porque tenho certeza que o trabalho não ficaria tão bom.
Dois anos depois, mandei meu currículo (magro e sem qualquer crédito de tradução) para a Editora JBC e consegui fazer um teste. Apesar de ter sido elogiado, não havia trabalhos disponíveis pra que eu fizesse. Não satisfeito, em 2012 eu traduzi o Volume 24 do mangá Fairy Tail por conta própria e enviei para a editora numa tentativa de mostrar que eu podia trabalhar com mangás. Foi o tradutor-chefe da JBC na época, Arnaldo Oka, quem teve toda a paciência do mundo comigo e me reenviou um dos capítulos com diversos comentários seus sobre a tradução que fiz. Pra mim, essas dicas foram extremamente preciosas e eu até hoje sinto uma gratidão enorme pelo gesto.
Foi só no final de 2013, que depois de participar de um processo de seleção de novos tradutores do selo Planet Mangá da Editora Panini que eu consegui finalmente ingressar no mercado, onde para minha felicidade, continuo até hoje! Quem intermediou todo o processo e me deu essa chance foi a Editora Sênior da Planet Mangá, Beth Kodama. Logo quando fui contratado, uma frase dita por ela me marcou muito: “Não existe qualidade maior do que a daquele artesão que ama o seu trabalho.”. E amo tanto que permaneço lá desde então!
Claro que é possível fazer um ótimo trabalho com séries que não se tem muita afinidade. Você estuda o material e faz o seu melhor. Mas certamente aquele amor de fã, que faz com que muitos de nós cheguem a “trabalhar” de forma amadora com os mangás que nos fascinam tanto, é sem dúvida alguma um bom diferencial. Eu certamente tenho sido muito privilegiado em trabalhar com títulos que gosto tanto.
No começo, a ideia era que eu assumisse apenas o mangá Tutor Hitman Reborn a partir do Vol. 06. “Reborn” é um exemplo clássico de uma série que pra sobreviver nas concorridas páginas da Shonen Jump, acaba fazendo a transição de mangá de comédia para mangá de batalhas e eu comecei a traduzi-lo justamente nessa transição. E apesar de não ser previamente um grande fã da série, fui completamente cativado pelas aventuras de Tsuna e os Guardiões Vongola. Essa é uma série muito criticada por conta do seu protagonista, mas eu não tenho reclamações e até costumo me inspirar na bravura calma de Tsuna quando alvejado pelas Balas Shinuki. Eu sempre vou ter um carinho imenso pela série por ela ter aberto as portas para que eu finalmente pudesse trabalhar com o que eu tanto queria.
Só que eu havia realmente tirado a sorte grande e dias depois me foi oferecido trabalhar com Naruto e One Piece. Mesmo achando que eu podia estar dando um passo maior que as pernas, traduzi os últimos nove volumes de Naruto com muito carinho e sigo trabalhando até hoje com One Piece. Mas, se vamos falar da minha relação com One Piece, eu realmente preciso de uma seção do texto só pra isso.