Felipe Monte – Títulos Traduzidos
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Bem, agora que já falei bastante de One Piece, vou tentar falar um pouco sobre os títulos que já traduzi ou ainda estou traduzindo no momento sem muito compromisso com a cronologia dos trabalhos, todos pela Editora Panini.
Já traduzi duas séries “picantes” de comédia e batalha que tem histórias e personagens tão parecidos entre si que muitas vezes eu chegava a me confundir qual era qual: High School DxD e Testament of Sister New Devil. Quando estou trabalhando, tenho o costume de falar bem alto a forma como decidi traduzir as onomatopeias pra ver se elas estão passando de forma fidedigna o som da coisa toda. Posso dizer que é uma experiência um pouquinho constrangedora ficar reproduzindo barulhos “quentes” em voz alta, mesmo estando sozinho de frente pro PC… Faz pouco tempo que voltei a trabalhar com o gênero em Yuuna e a Pensão Assombrada, que justiça seja feita, é muito mais leve e divertido que os dois que citei anteriormente.
Na comédia, me aventurei com Rock Lee e a Primavera da Juventude (uma das séries derivadas de Naruto) e com Eu sou Sakamoto. Em ambas me diverti muito com o trabalho e acho que levo um pouco de jeito com séries assim. Essas duas foram as primeiras séries que traduzi por completo, cuidando delas do começo ao fim.
Outra série que tive o enorme privilégio de dar todo esse carinho a traduzindo de cabo a rabo foi Mob Psycho 100. A história é sobre um ginasial que provavelmente é o esper mais poderoso de todo o mundo, lidando com os problemas cotidianos da puberdade enquanto trabalha sob a mentoria de um charlatão carismático. É uma joia dos mangás que pra mim foi uma experiência emotiva e também extremamente divertida de traduzir.
Certo dia, ao ser perguntando se eu tinha interesse em traduzir um novo título, minha editora disse apenas o seguinte:
“Você cozinha?”
Como pra bom entendedor meia palavra basta, respondi que sim e aceitei trabalhar com Food Wars , uma série que gira em torno de Batalhas Culinárias no mais proeminente Instituto de gastronomia do Japão.
Apesar de saber, sim, cozinhar além do que é considerado “básico” (joguei a modéstia pro espaço!), estou longe de conseguir fazer os pratos fantasiosos (porém verossímeis) do mangá. De qualquer forma admito que isso me ajudou bastante, mas ainda assim, atualmente, Food Wars é a série que mais me dá trabalho para traduzir. Além do grande volume de texto, quase sempre é necessária uma pesquisa sobre algum ingrediente, processo culinário e até mesmo eletrodomésticos mais especializados. Aliás, recomendo que os leitores da série tentem cozinhar os pratos cujas receitas são fornecidas no fim dos capítulos! Eu sempre traduzo essas receitas pensando em deixar tudo o mais didático possível imaginando alguém tentando reproduzi-las! É um trabalho recompensador que me dá bastante orgulho de como tenho adaptado o texto e onde pude aprender muito sobre culinária e sobre a língua japonesa também. Quem sabe um dia eu chegue na “Verdadeira Alta Gastronomia”, o ideal culinário de um dos vilões de série.
Como nem tudo são flores, posso dizer que a minha experiência traduzindo Bakemonogatari não foi das melhores. Sabem aquilo que eu falei sobre o amor pela séries ser aquele tempero especial na hora de fazer o trabalho? Eu não consegui ter esse amor por ela e ainda estava passando por grandes problemas pessoais na época, tanto que desisti do título depois de traduzir apenas as três primeiras edições. Além da série ter uma linguagem bem complexa, ela é adaptação de uma extensa série de light novels que eu nunca passei nem perto de ler ou saber detalhes das histórias. Me faltava esse conhecimento, esse amor. A verdade é que eu nunca consegui ser cativado pela série e faço aqui um mea culpa pelo meu melhor não ter sido suficiente pra série, que hoje está em mãos muito mais competentes que as minhas.
Deixando os fracassos de lado, sigo trabalhando com um dos meus verdadeiros xodós do mundo dos mangás: Fire Force! Sou tremendamente apaixonado pela Oitava Unidade da Brigada Especial do Império de Tóquio que luta contra o fenômeno da combustão humana espontânea e toda a grande conspiração por trás dela. Fantasia, mistério, comédia, batalhas incríveis e personagens muito cativantes fazem de Fire Force um tremendo mangá que recomendo a todos! Essa é uma das séries que quando sento pra traduzir, não tem tempo ruim.
Recentemente, recebi um convite para trabalhar nos volumes finais de Demon Slayer e fiquei extremamente feliz de poder participar de alguma forma desse verdadeiro fenômeno cultural. Essa reta final do mangá é extremamente emocionante e não é a toa que a série conquistou o Japão e o mundo, destronando até mesmo One Piece em vendas no ano de 2020. Sem contar que está sendo muito interessante trabalhar numa série com uma linguagem tão japonesa e sem qualquer pseudo-anglicismo no seu texto. É particularmente divertido adaptar as técnicas de espadas da série, especialmente quando elas são apenas expressões idiomáticas e cabe um certo “floreio” na tradução.
As que mais gostei foram “Caminho Serpentino Tortuoso”, técnica da Respiração das Serpente que no original é “En’en Chouda” (expressão idiomática que significa uma fila ou caminho longo que não segue em linha reta) e “Enxame Trovejante”, técnica da Respiração do Trovão que no original é “Shuubunseirai” (expressão que se assemelharia ao nosso “a união faz a força” porque tem o significado de coisas muito pequenas se juntarem e assim, se fortalecerem. O ideograma de “raio” na palavra vem do fato da origem da expressão ser a ideia de que se inúmeros mosquitos se juntarem o som deles vai se assemelhar a um trovão).
Com Hell’s Paradise tive a minha primeira incursão numa história de samurais e ninjas com uma pegada um pouco mais “séria” mesmo sendo uma série bem fantasiosa. É um trabalho que demanda bastante pesquisa sobre Taoismo e religiões de origem asiática no geral pois sua história bebe fortemente dessa fonte, mas que tem sido muito recompensador.
Por último e não menos importante, não posso deixar de falar do badalado Chainsaw Man de autoria de Tatsuki Fujimoto. Um mangá que por trás das tripas, sangue e o som das motosserras, conta uma história muito humana de uma forma bem particular. Se eu falar que trabalhar nessa série é divertido vou estar chovendo no molhado porque simplesmente a amo!
Segue abaixo a lista completa de tudo que já traduzi até o momento:
- One Piece – Edições #47 ~ #99 (em andamento)
- Naruto – Edições #64 ~ #72 (concluído)
- Tutor Hitman Reborn – Edições #6 ~ #42 (concluído)
- HighSchool DxD – Edições #01 ~ #06, #10 e #11 (concluído)
- Rock Lee e a Primavera da Juventude – Edições #01 ~ #07 (concluído)
- Eu sou Sakamoto – Edições #01 ~ #04 (concluído)
- Testament of Sister New Devil – Edições #05 ~ #09 (concluído)
- Mob Psycho 100 – Edições #01 ~ #16 (concluído)
- Wanted! (Edição Única)
- One Piece Yellow (Datafile da série One Piece)
- One Piece Green (Datafile da série One Piece)
- One Piece Blue Deep (Datafile da série One Piece)
- Bakemonogatari – Edições #01 ~ #03
- Fire Force – Edições #04 ~ #21 (em andamento)
- Yuuna e a Pensão Assombrada – Edições #01 ~ #21 (em andamento)
- Food Wars! – Edições #01 ~ #30 (em andamento)
- Demon Slayer – Edições #16 ~ #21 (em andamento)
- Chainsaw Man – Edições #01 ~ #03 (em andamento)
- Hell’s Paradise – Edições #01 ~ #03 (em andamento)
Conclusão e Agradecimentos
Queria só concluir dizendo que durante alguns momentos da minha carreira eu me senti como uma espécie de “tradutor menor” por trabalhar apenas com mangás e não com coisas mais “sérias”. Muitas vezes pensei que deveria procurar alçar voos mais altos, mas cheguei a conclusão que ser “só” um tradutor de mangás me cai muito bem e é a coisa que eu mais amo fazer! Eu realmente me encontrei e espero seguir no ramo enquanto me quiserem!
Esse é um trabalho onde você senta sozinho com seus dicionários, faz suas pesquisas e dá o seu melhor pra passar a mensagem da forma mais fidedigna possível. É um trabalho solitário, sem qualquer glamour e onde você vai brilhar de verdade quando sua presença for completamente invisível. Mas, acredite, é maravilhoso.
Gostaria de agradecer imensamente a Fundação Japão pelo convite que me deixou extremamente lisonjeado e todos que leram esse artigo. Eu pretendia falar um pouco mais sobre os pormenores da tradução em si, mas acabei contando um pouco da minha história com esse trabalho e como cheguei onde estou hoje. Peço desculpas a todos se as vezes pareço apaixonado ou emocionado em demasia e também se escrevi demais e acabei fugindo um pouco do tema!
Queria aproveitar para deixar um abraço carinhoso para Beth Kodama, minha eterna editora com quem tenho uma ótima relação de trabalho e que me deu a oportunidade de fazer o que tanto amo. Abraços também para todos que já trabalharam comigo de alguma forma na Planet Mangá e para alguns tradutores do meio que eu admiro muito: Drik Sada (a incomparável!!), Karen Kazumi Hayashida e Thiago Nojiri.
Por fim, quero dizer que enquanto seguirem confiando no meu trabalho, eu vou estar mergulhados nas páginas dessas séries tão incríveis dando sempre o meu melhor!
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