Lídia Ivasa – Experiência com tradução de mangás

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Retornei a São Paulo após a graduação e respondi a um anúncio de vaga para tradutor de japonês da editora Mythos/Panini. Fiz um teste de tradução e foi assim que comecei a trabalhar com tradução de mangás. Posso dizer que cada título sempre traz algum aprendizado, pois cada história possui seu próprio universo narrativo e o diálogo com conhecimentos culturais e científicos está sempre presente. Talvez seja pelo meu interesse em História, ou talvez pura coincidência, mas a maioria dos títulos que traduzi possui esse tema como pano de fundo e se passa em diferentes períodos: em Vinland Saga, de Makoto Yukimura, temos a história de vida do explorador viking que chegou às Américas no século XI; em Innocent, de Shin’ichi Sakamoto, o dilema do carrasco francês que decapitou o rei Luís XVI durante a Revolução Francesa; em Golden Kamuy, de Satoru Noda, a jornada do soldado japonês que retornou da Guerra Russo-Japonesa e conheceu uma garotinha da etnia ainu em Hokkaido. Não importa a cultura ou nacionalidade, o drama humano pode ser compreendido universalmente. O que cada cultura traz, no meu entender, é um olhar diferente sobre o mesmo objeto. Em certo sentido, é o que o texto literário também traz aos leitores.

 

© Panini / Foto: Lídia Ivasa

 

Quanto à prática, se o mangá for baseado em fatos históricos, na biografia de personalidades ou possui algum conteúdo específico, geralmente é produzido um glossário. Sobre esse tipo de material, posso destacar um ponto interessante, que é conhecer referências sob a perspectiva japonesa. Explico: um dos títulos que trabalho atualmente se passa entre o Japão e a Rússia do início do século XX, após a Guerra Russo-Japonesa. A ilha de Sacalina é chamada de Karafuto e o estreito da Tartária é conhecido como estreito de Mamiya (em homenagem ao explorador Rinzō Mamiya). Esses detalhes chamam a atenção durante a tradução, pois alertam o tradutor sobre o ponto de vista em que a história é narrada. Será que podemos ignorar o termo Karafuto e simplesmente substituir por Sacalina na tradução?

 

 


 

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