Stéphanie Havir de Almeida – Literatura como ferramenta de educação cultural
Tradução em Foco > Literatura como ferramenta de educação cultural
Não é preciso dizer da importância da literatura na formação cultural dos seres humanos, quanto mais do público infantil e juvenil.
Entretanto, é de se notar o trabalho silencioso que a literatura estrangeira é capaz de fazer no sentido de educar culturalmente as pessoas de diferentes etnias.
Através da literatura podemos viajar e viver experiências que talvez não nos fosse possível na realidade. Isso porque o autor ou autora escreve a partir de seu próprio universo pessoal; são ideias retiradas das entranhas de seu ser e impregnadas com tudo aquilo pelo que já viveu. Por isso, as experiências literárias, por vezes, são mais ricas do que experiências pessoais. Nos é permitido enxergar o mundo através dos olhos daquele que narra a estória e apreender novas formas de pensar.
Assim, posso dizer que conheço o Japão, China, Nigéria, Alemanha, Rússia, e outros lugares e tempos que sequer existem nesse planeta, porque meus autores favoritos me levaram até lá.
A importância da literatura infantil
Além de ser uma grande ferramenta na alfabetização e também na formação cultural, conforme já dissemos, o contato precoce com a literatura já comprovou seus impactos positivos no longo prazo, com a formação do pensamento crítico de crianças, adolescentes e adultos.
Mas é especialmente entre o público mais jovem que a literatura proporciona maiores ganhos pessoais e intelectuais.
Por ainda não dominar a arte da leitura, a criança necessita de ajuda dos mais velhos, o que possibilita momentos importantes de proximidade, afeto e aprendizado. A criança, então, acaba por associar o hábito de leitura a momentos gostosos e íntimos com seus entes queridos e esse sentimento pode auxiliá-la no desenvolvimento da inteligência emocional.
E tão importante quanto esses momentos de leitura é a escolha do livro, tanto pelo conteúdo quanto pelas figuras e ilustrações que ativarão o lado criativo daquele ser em desenvolvimento que é a criança.
É nesses pontos que vejo a beleza da tradução de obras infantis, que trarão para as crianças brasileiras também a cultura e forma de pensar de outros países e etnias; algo que, a longo prazo, pode se provar muito efetivo na tarefa de inclusão e aceitação dos diferentes e suas diferenças, propiciando, quem sabe, um convívio mais harmônico em sociedade com seres humanos mais tolerantes e respeitosos.
Tanto Taro Gomi quanto Taro Miura desempenham perfeitamente o papel de transmissores dessas virtudes literárias. Ambos são autores e ilustradores de suas obras, com estilos bem distintos: aquele se utiliza de traços mais fluidos, arredondados, tons pastéis, diálogos curtos e simples; este aposta nos textos mais alongados, cores fortes e vibrantes, traços geométricos e curiosos detalhes realistas.
Taro Gomi, nascido em 1945, é natural de Tóquio e conta com um currículo de mais de 400 obras. Já Taro Miura, nascido em 1968, em Aichi, apesar de mais jovem, segue o mesmo caminho do brilhantismo do autor mais experiente. Sua obra 「ちいさな おうさま」, traduzida para o português como “O Pequeno Rei”, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, incluindo Sankei Children’s Book Art Award de 2011.
Assim, vejo as 4 obras que tive a oportunidade de traduzir como 4 joias da cultura japonesa, que vêm abrilhantar a cultura brasileira com ensinamentos de compreensão, responsabilidade, amor, amizade, respeito, empatia…
A seguir, quero comentar brevemente sobre cada uma delas e seus ensinamentos, trazendo também um pouquinho da experiência prática da tradução com foco na essência da mensagem.
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