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Conexão Japão-Brasil revela a influência japonesa na música brasileira
Publicado por FJSP em Arte e Cultura Estudos Japoneses e Intercâmbio Intelectual 17/10/2018
A Fundação Japão em São Paulo, com a colaboração da JAPAN HOUSE São Paulo, promoveu na tarde de 25 de setembro o evento Conexão Japão-Brasil na música brasileira. O evento apresentou a forte conexão entre Brasil e Japão no universo da música brasileira, revelando a presença do Japão em criações de diversos artistas, por meio da pesquisa e organização do jornalista japonês Willie Whopper.
Segundo Willie Whopper, a cultura japonesa é bastante apreciada pelos brasileiros, e isso inclui também a música, levando muitos artistas a simpatizarem com o Japão e levarem este sentimento para as suas composições.
“Há diversas canções inspiradas na imagem do Japão, baseadas em experiências vividas pelos compositores no país e, ainda, composições japonesas reinterpretadas por artistas brasileiros, ilustrando o universo da música brasileira inspirada no Japão.”
Na segunda parte do evento, o músico Renato Braz, com a participação especial de Nathalia Leter, no violoncelo, apresentou algumas das composições citadas no evento e outras que também têm a influência japonesa, como é o caso de Kojo no Tsuki. A música, escrita na Era Meiji, em 1901, já recebeu diferentes versões e modernos arranjos de diferentes artistas.
O Japão na música brasileira
A palestra do jornalista japonês Willie Whopper foi dividida em blocos. No primeiro, apresentou artistas que, sem nenhum vínculo com o Japão, acabaram retratando o país de maneira mais estereotipada. É o caso da música Ariga Tchan, lançada pelo grupo É o Tchan em 1998. Com o enorme sucesso, conta Willie, o grupo acabou indo duas vezes ao Japão para se apresentar.
Em 2015, o cantor de funk Nego do Borel estreou Nego Resolve. O single ganhou um clipe que se passa em um programa de auditório típico da TV japonesa, com competições bizarras. Nego, um dos competidores, participa no vídeo de todas as trapalhadas propostas.
Mais recente, o jornalista japonês citou a música Waiting in Tokyo, de 2017, do cantor Supla, que conta com a participação de Victoria Wells Petrusky, integrante da banda Loose Animals. A música ganhou, no mesmo ano, uma versão em português com direito a videoclipe, Eu vou até Tokyo. Supla, que na década de 1980 integrou a banda de punk rock Tokyo, tem como um de seus maiores sucessos a música Japa Girl, de 2001, já em carreira solo.
O jornalista ainda apresentou exemplos mais antigos, como a faixa Baião no Japão (1954), do disco de 78 rpm do trio Trigêmeos Vocalistas, e a participação de Altamiro Carrilho no disco Tanganyka, de Pedro Santos, de 1955, na faixa Sayonara Tokyo. Da década de 1960, veio Japonesa, de Joel e Gaúcho, que integrou o disco Carnaval RCA 63. No ano seguinte, Corisco e Os Sambaloucos lançaram o LP Outro Show de Bossa, com a música Samba no Japão (1964). Já no final da década de 1980, Lourenço e Lourival gravaram Os Três Boiadeiros Japoneses (1989).
Japão sem estereótipos
Nesta parte do evento, Willie Whopper reuniu artistas que trouxeram para as suas obras a influência do Japão sem os tradicionais estereótipos. A cantora Martha Mendonça é uma delas. Em 1964, um ano antes de se casar com Altemar Dutra, lançou Saudade de você (Kimi Koishi).
Em 1968, Os Incríveis trouxeram o álbum Os Incríveis no Japão, com a faixa Love you Tokyo. Esta composição utiliza uma música original da era Meiji, composta por volta do ano de 1700.
Também em 1968 veio O Meu Corolla, que a cantora Claudia gravou quando morava no Japão. Alguns anos mais tarde, a cantora ficou conhecida por sua gravação da canção Jesus Cristo, de Erasmo e Roberto Carlos.
Outro cantor que morou no Japão por muitos anos foi o paraense Teddy Max. Ao longo dos 14 anos em que esteve por lá, fez shows em Tóquio, Nagoia, Osaka, Kanagawa, entre outras. Foi nesta época que compôs Japonesinha, uma homenagem à sua esposa, Betty Max, também cantora.
Junto dos três filhos, o casal voltou do Japão em 2002, passando a viver em São Paulo, no bairro da Liberdade, até 2008, quando Teddy faleceu.
Por fim, Willie encerrou este bloco com Bebel Gilberto, que no disco De Tarde Vendo o Mar (The Sound of Brazil), de 1991, inteiramente produzido e com foco nas vendas no Japão. A capa do disco, inclusive, traz todas as informações em japonês.
Cantores nikkeis
Os Irmãos Kurimori formaram uma dupla sertaneja, no final da década de 1950, chegando a lançar dois discos de 78 rpm, nos anos de 1959 e 1960.
Também descendentes de japoneses são o cantor, compositor e instrumentista Arthur Vital e Sabrina Hellsh, que juntos formaram a dupla Arthur & Sabrina, em 2010. Lançaram a coletânea A Rosa e o Girassol, em todo o território japonês pela Rambling Records, que inclui a música Edo. A dupla se apresentou em diversas casas de Tóquio, nos famosos Saravah Tokyo, Motion Blue Yokohama, e percorreu o Japão em uma turnê que chegou até Fukuoka, no sul do país.
Atualmente, os artistas seguem em carreira solo. Arthur voltou a morar no Brasil, enquanto Sabrina segue cantando pelo Japão.
Direto do Japão
Nesta etapa, vieram os artistas que se inspiraram em viagens ao Japão para compor. Uma história inusitada aconteceu em 2001, quando perdido pelas ruas de Tóquio após de apresentar, Marcos Valle compôs Lost in Tokyo Subway.
Da MPB ao forró, o grupo Falamansa realizou o desejo do grupo em 2007, quando apresentaram seu sucesso Forró em Tóquio na capital japonesa. O show contou com a presença de Willie Whopper, que exibiu as imagens feitas por ele na época.
Toninho Horta também se inspirou no país e, mais especificamente, em suas idas e vindas no trem bala japonês. No disco Minas Tokyo, de 2012, a música intitulada Shinkansen traz na letra os nomes das diversas estações que percorria a bordo do famoso trem japonês.
Mais recente, em 2017, a cantora e rapper Karol Konka aproveitou uma viagem ao Japão para gravar o clipe da música Farofei, o terceiro single do álbum Ambulante. Fruto da parceria com o DJ e produtor Boss In Drama, o clipe mostra Karol com figurinos extravagantes em diversos locais públicos de Tóquio.
Sobre o Japão
Na última parte do evento, músicas menos conhecidas no Japão, mas que falam sobre o país de maneira muito especial.
Interpretada por Ney Matogrosso, ainda integrante do Secos & Molhados, em 1973, Rosa de Hiroshima traz em sua letra um poema escrito pelo cantor e compositor Vinícius de Moraes, que faz uma belíssima narrativa sobre a Bomba Atômica lançada no local e sua destruição.
Rosa de Hiroshima foi uma das canções mais escutadas nas rádios brasileiras no ano de seu lançamento, tendo sido classificada pela revista Rolling Stone em 69º lugar entre as 100 maiores músicas brasileiras.
O evento foi encerrado ao som de João Donato e Gilberto Gil, com A Paz, de 1986, que também descreve as grandes explosões da Segunda Guerra Mundial, afirmando que da tragédia renasceu um ‘Japão da paz’.
Willie Whopper
Jornalista japonês especializado em música brasileira, Willie Whopper é consultor do Jornal Cordel e contribui com inúmeras matérias para jornais, revistas e Web Magazine, além de resenhas de CD. Em 2006, inaugurou o Barzinho Aparecida, um espaço dedicado à divulgação do Brasil no bairro de Nishi-Ogikubo, em Tóquio.
Foi premiado na categoria musical do “1º Brazilian Press Awards”, em 2011. Realizou uma série de palestras abordando a música brasileira no Japão, na Embaixada do Brasil no Japão, em Tóquio, e mais recentemente no SESC São Paulo.
Lançou diversas publicações no Japão, como A verdade sobre a Bossa Nova, A verdadeira música brasileira, O Brasil através da música, entre outros.
Renato Braz
O cantor paulistano é uma das referências no cenário da música brasileira, com carreira reconhecida nacional e internacionalmente. Seu disco de estreia, Renato Braz (1996), lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Sharp na categoria revelação.
De lá para cá, contou com ilustres participações em seus álbuns, como a de Dori Caymmi. Também têm sido reconhecido por meio de premiações, como o Prêmio Rival Petrobras, na categoria Cantor Popular. Mais recentemente, no 29º Prêmio da Música Brasileira, seu trabalho ‘Tatanaguê’ recebeu o prêmio de Álbum Projeto Especial, ao lado de Theo de Barros.
Sua carreira internacional começou em 1999, com turnê pela Alemanha. Depois disso, se apresentou em países como Estados Unidos e Japão.
Atualmente prepara um disco de voz e piano com o compositor Breno Ruiz, além de seu 16º álbum, intitulado ‘Canto Guerreiro – Levantados do chão’, com participações de Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Guinga, Miúcha, entre outros.
Adorei a matéria sobre influência japonesa na música brasileira.
Me fez lembrar de alguns artistas e conhecer outros que eu não sabia que tinham feitos gravações de músicas com referências do Japão.