Jaqueline Mami Nabeta – 50 anos sem Yukio Mishima

Tradução em Foco > Jaqueline Mami Nabeta

 

50 anos sem Yukio Mishima

Dia 26 de novembro de 1970. Como era costume em casa, o rádio estava ligado para o noticiário matutino. De repente, o locutor anuncia com dramaticidade: “morreu ontem o escritor japonês Yukio Mishima, cometendo suicídio por harakiri.

Eu tinha 7 anos de idade, mas me lembro como se fosse hoje. Perplexa, fiquei estática diante do aparelho por alguns bons segundos. Não sabia quem era Yukio Mishima, provavelmente como tantos outros brasileiros, mas sabia o que era harakiri. Qual seria a razão que levaria alguém a rasgar o próprio ventre com uma adaga ao estilo dos samurais – era a pergunta cuja resposta não obtive na época.

 

Imagem 1 – Discurso em Tóquio, antes de cometer suicídio (25 nov.1970)

 

O escritor e suas obras

E o tempo passou. E fiquei sabendo que Yukio Mishima era na realidade Kimitake Hiraoka. O pseudônimo foi escolhido ainda na adolescência, quando escreveu sua primeira obra. Nasceu em 14 de janeiro de 1925 em Tóquio. Passou sua infância e juventude, portanto, no período de entreguerras. Filho de um funcionário de um ministério e de mãe cuja família era de pedagogos. Mas logo que nasceu foi criado por sua avó paterna, cujos ascendentes eram oriundos de uma boa família de samurais. A saúde frágil e estado depressivo dessa avó obrigavam-no a ficar recluso no mesmo quarto. Por outro lado, foi por meio desse convívio que teve contato com o Japão clássico, como o teatro e kabuki.

Estudou direito na Universidade de Tóquio e trabalhou por apenas nove meses no Ministério da Fazenda, resignando a seu cargo de funcionário público para se dedicar integralmente à literatura. Foi quando terminou de escrever seu primeiro romance de sucesso, Confissões de uma máscara (1949).

Desde então, após se revelar como um jovem escritor de talento, Yukio Mishima não parou mais, deixando fecundo trabalho: “romances, contos, peças teatrais, críticas, ensaios literários, filosóficos, culturais e políticos. As obras completas de Yukio Mishima, pela Editora Shinchôsha, perfazem trinta e oito volumes espessos.” (KUSANO, 2006, p. 3)

Além de  Confissões de uma máscara (1949), seus romances mais representativos são Cores proibidas (1951), Mar inquieto (1954), Templo do pavilhão dourado (1956) e a tetralogia Mar da fertilidade (1966 – 1970).

Foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel de Literatura, mas quem o levou em 1968 foi Yasunari Kawabata – mestre e amigo mais velho que reconhecia em Mishima uma genialidade ímpar.

 

 


 

É paulistana, neta de japoneses. Diferentemente de muitos descendentes de sua geração não estudou japonês desde a infância nas nihongo gakko (escolas de japonês). Foi estudar o idioma pela primeira vez aos 19 anos de idade em Tóquio, inicialmente no Sendagaya Japanese Language Institute e depois na Sophia University (Jochi Daigaku). Bacharel em Letras Hebraico – Português pela Universidade de São Paulo (USP). Participou do Graduate Program on Japanese Language and Culture (Master’s Course) da Japan Foundation. Seu primeiro emprego foi trabalhar como assistente de um tradutor juramentado (japonês/inglês). Leciona japonês há 30 anos. Trabalhou na Aliança Cultural Brasil-Japão de 1990 a 2017, sendo que de janeiro de 2008 a março de 2017 foi coordenadora de cursos. Hoje tem seu curso próprio, o J.MARU Idiomas, e é a representante no Brasil do J.TEST – Test of Practical Japanese.

 


 

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