Jaqueline Mami Nabeta – Mishima no Brasil

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No dia 27 de janeiro de 1952, Mishima desembarca no Rio de Janeiro. Viera na missão de correspondente do Asahi Shimbun, um dos cinco maiores periódicos japoneses. Havia passado pelos Estados Unidos antes, e depois ainda visitaria alguns países da Europa.

Ficou cerca de um mês no Brasil, conheceu as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Chegou a ir a Lins, no interior do estado paulista, onde um amigo de infância tinha uma fazenda.

Essa viagem ao noroeste paulista, além de várias crônicas, rendeu uma peça, a Toca dos cupins e a opereta Bom dia, senhora.

Foi sua experiência no carnaval carioca, porém, provavelmente um dos raros momentos em que despiu sua alma da máscara:

O êxtase do carnaval não tem valor algum aos olhos dos que desejam apenas contemplar. Quero confessar francamente que eu me extasiei.
(KUSANO, 2006, p. 84)

Após dois dias hesitando, no terceiro não resistiu à energia contagiante do mar humano, caindo, como se diz popularmente, na folia.

 

Imagem 2 – Yukio Mishima (1956)

 

O reencontro

Certa manhã, o telefone toca. Era a Yuko Takeda, saudosa amiga, tradutora e intérprete. Depois dos usuais cumprimentos me perguntou:

― Você não gostaria de traduzir um livro de Yukio Mishima?
― Eu? – respondi surpresa. Qual é a obra?
Confissões de uma máscara.

Continuamos ainda a conversar por um tempo, enquanto tentava decidir se gostaria ou não, pois sabia que seria um árduo trabalho, uma longa gestação, inclusive com alta probabilidade de ser de risco (risos).

Mas, como são os desafios que me movem, até hoje, e como toda tradutora e professora devem concordar comigo que a melhor maneira de continuar aprendendo é traduzindo e dando aulas, respondi:

― Bem, se a editora me conceder um tempo razoável, pois as aulas de japonês me tomam muito o tempo, posso tentar.

Assim, participei do processo seletivo da editora que consistia em traduzir algumas páginas do primeiro capítulo. Fui a selecionada, e depois de alguns dias estava com o original em japonês em minhas mãos.

Passados mais de trinta anos desde aquele trágico primeiro encontro, confesso (na acepção literal da palavra e não “mishimiana”) que jamais imaginara que pudesse traduzir uma obra de Yukio Mishima.

Coisas da vida, como diriam alguns.

 

 


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