Jaqueline Mami Nabeta – O trabalho do tradutor
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Volta e meia, o trabalho do tradutor é tema de discussões e reflexões: afinal, a tradução é uma criação, recriação ou uma transcriação como diz o mestre Haroldo de Campos em relação à poesia.
“Tradução somente existe porque existe diferença (cultural, de línguas). Portanto, não pode ser igual ao original.” Foi o comentário que me fez refletir quando participei de um encontro a respeito, organizado pelo Departamento de Letras – Japonês da UNESP e Fundação Japão em São Paulo
Para conseguir realizar essa transposição de diferenças, portanto, desnecessário ressaltar que o domínio léxico-cultural tanto da língua de partida como a de chegada é requisito sine qua non para um tradutor . E nessa última inclui-se também o domínio de registros, que no caso de um romance não se restringem aos literários.
Do meu ponto de vista, o tradutor literário é como o ator que estuda, se necessário pesquisa o contexto histórico-cultural para compor um personagem, que “incorpora” seus vícios, virtudes, sua visão de mundo, seus anseios e dilemas para criar um micro mundo e passar sua mensagem à plateia que o assiste.
Nesse mesmo sentido, a obra literária assemelha-se a uma peça teatral ou a um filme, e desenrola sua trama por meio das palavras que se transformam em imagens mentais que o leitor cria através da leitura, as quais, concomitantemente, reverberam no seu interior.
Apurar o entendimento do que o escritor pretende transmitir, a escolha das palavras, atentar a redação para que o leitor possa criar imagens semelhantes às que eu criava quando li o original e ter sensações parecidas foi um cuidado tomado com especial atenção na tradução de Confissões de uma máscara.
Especial porque Yukio Mishima é um gênio, um mestre nisso.
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