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Medicina Kampo
Publicado por FJSP em Arte e Cultura Língua Japonesa 16/07/2018
Palestra marca lançamento de livro e apresenta aspectos histórico e cultural da medicina oriental
No último dia 3 de julho, a Fundação Japão promoveu a palestra “História e Cultura da Medicina Tradicional Japonesa, a Medicina Kampo”. O evento aconteceu em parceria com a JAPAN HOUSE, em São Paulo, e marcou o lançamento do primeiro livro sobre essa medicina escrito em português: Dicas Clínicas da Medicina Kampo.
O evento contou com palestra do Dr. Kazusei Akiyama, doutor em medicina pela Universidade de São Paulo e fellow da The Japan Society for Oriental Medicine, que fez a revisão médica da publicação.
Os presentes também puderam acompanhar um depoimento em vídeo exclusivo do autor do livro, Dr. Kenji Watanabe, professor titular e diretor do Ambulatório Kampo Center do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da Keio University, que diretamente de Tóquio, no Japão, destacou a origem da medicina tradicional oriental e sua utilização nos dias de hoje.
Na segunda parte, Dr. Akiyama abordou aspectos históricos e culturais da medicina tradicional, bem como os benefícios da associação das medicinas ocidental e tradicional, que já são há muitos anos observados na sociedade japonesa e já são também praticados no Brasil. Confira, a seguir, os principais destaques da noite.
História e atualidades
A primeira parte do evento, apresentada em vídeo pelo Dr. Kenji Watanabe, autor do livro Dicas Clínicas da Medicina Kampo, apresentou a origem da medicina tradicional japonesa. A medicina tradicional chinesa forneceu uma mesma raiz não apenas para o Japão, mas para diversos países orientais. Cada qual desenvolveu de maneira própria, aperfeiçoando os conceitos com foco em sua população, abordando suas particularidades e necessidades.
Assim, enquanto na China praticava-se a Medicina Tradicional Chinesa, no Japão surgia a Medicina Kampo e, na Coreia, a Medicina Han.
Estas medicinas, com o passar do anos, deixaram de ser praticadas apenas em seus países de origem para se expandir para o resto do mundo, como terapias complementares e alternativas.
Dr. Seishu Hanaoka foi um dos precursores da utilização da anestesia na Medicina Kampo. Ele realizou uma cirurgia da câncer de mama utilizando anestesia geral composta por fórmulas da Medicina Kampo, em 1804. Este fato ocorreu quase quatro décadas antes do que citam os principais historiadores da área médica sobre a primeira anestesia utilizada em cirurgia.
“Em comparação com a medicina ocidental, que é estática e objetiva, a Medicina Kampo é dinâmica e subjetiva. A integração das duas permite aos pacientes melhores tratamentos”, explica o Dr. Watanabe.
Atualmente, explicou o especialista, existem 148 fórmulas listadas no Japanese Insurance Program, que são utilizadas por quase 90% dos médicos japoneses. Entre as especialidades, as que mais costumam indicar a seus pacientes medicamentos Kampo são clínicos gerais (88,8%), seguidos de ginecologistas e obstetras (86,7%), Psiquiatras (85,7%) e Cirurgiões (84,7%).
Estes medicamentos são regulamentados pelo governo japonês e devem ser prescritos pelos especialistas para que possam ser comercializados.
Segundo o Dr. Watanabe, a Medicina Kampo é utilizada em todo o Japão concomitantemente com a medicina de alta tecnologia. Nas 82 escolas médicas existentes hoje no Japão, os estudantes recebem aulas de habilitação em Medicina Kampo.
“A Medicina Kampo reduz o tempo de hospitalização de pacientes em tratamento para câncer de cólon, seja com cirurgia tradicional ou laparoscopia.”
CID 11
Outra grande notícia que o Dr. Watanabe trouxe ao evento foi a inclusão da medicina tradicional na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). A CID é uma relação universal, que fornece uma linguagem padronizada para registro e monitoramento de doenças em todo o mundo. Isso permite que profissionais possam comparar e compartilhar dados entre hospitais, regiões e países, facilitando a coleta e armazenamento de dados para análise e tomada de decisões baseadas em evidências.
Ainda hoje, está em vigor a CID-10, que foi aprovada em maio de 1990, pela 43ª Assembleia Mundial da Saúde. No entanto, Dr. Watanabe revelou que foi lançada no último dia 18 de junho, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11). A nova versão será apresentada oficialmente em maio de 2019, durante a Assembleia Mundial da Saúde, e deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2022.
A revisão, explicou, foi necessária para acompanhar o progresso nas ciências da saúde e na prática médica, incorporando os avanços em tecnologia e na medicina.
“Entre as novidades da CID-11, está um novo capítulo destinado à medicina tradicional, que ainda não havia sido classificada nesse sistema”, comemora o especialista.
Segundo a Dra. Margaret Chan, diretora geral da OMS, na ocasião do lançamento da CID-11, esta é uma ocasião histórica.
“É uma grande oportunidade possibilitar às comunidades médicas, epidemiológicas e de saúde pública uma ferramenta estatística de ponta. Dados específicos, precisos e passíveis de comparação são a base de tudo o que fazemos”, avaliou.
Com a participação de 1.673 especialistas, de 31 países, o novo CID-11 traz 55 mil códigos, ao invés dos 14.400 disponíveis na versão anterior.
Medicina Kampo no Brasil
A segunda parte do evento, apresentada pelo Dr. Kazusei Akiyama, seguiu trazendo informações históricas e culturais da Medicina Kampo.
Segundo o Dr. Akiyama, a Medicina Kampo foi introduzida no Sistema Nacional de Saúde do Japão em 1976, com o reconhecimento de 33 fórmulas.
Ele citou o conceito Mibyou, que afirma que o grande médico não é aquele que cura a doença que já apareceu, cura a doença que está por vir. O Dr. Akiyama fez o paralelo deste conceito àquele que afirma que um país deve ser bem governado enquanto estiver em ordem, e não tentar corrigir depois que estiver em desordem.
“Tomar remédios depois que a doença se instala ou governar depois que o país estiver em desordem equivaleria a cavar um poço depois que estiver com sede, ou fabricar armamentos depois que a guerra iniciou, ou seja, começou tarde”.
Outros ensinamentos importantes, compartilhados pela Medicina Kampo, vêm do filósofo japonês Ekiken Kaibara. “Ter como meta a saúde pessoal e a saúde da sociedade, aproveitar a vida, mantendo hábitos saudáveis desde a juventude para ter uma velhice tranquila, manter a alma calma e o corpo em movimento, eliminar a cobiça interna, evitar as tentações externas e, na velhice, dar importância a todos os dias”.
Entre as técnicas chamadas Youjou, ensinou que não devemos esfriar o corpo, especialmente a pelve, pernas e pés. Outro costume comum no Japão é o de usar várias camadas de roupas, para colocar e tirar as peças facilmente, conforme varia a temperatura ambiente, auxiliando assim o organismo a manter a temperatura ideal sem exigir demasiado gasto energético.
“Não devemos exagerar no ar condicionado, nem muito frio, nem muito quente, e regular a umidade. A alimentação também deve ser saudável. Comer em equilíbrio, com regularidade, e utilizar ingredientes locais e da época”.
Uma medicina para cada um
A grande diferença da Medicina Kampo para a praticada no ocidente está na personalização do tratamento conforme o paciente. As pessoas são divididas em biotipos (taishitsu), como por exemplo a classificação feita pela Escola Ikkandou do Dr. Dohaku Mori: gedokushou, zoudokushou e oketushou.
Assim, uma mesma doença, como a gripe, por exemplo, poderá utilizar diferentes tratamentos. O médico avaliará, de acordo com o biotipo do paciente, bem como outros sintomas presentes, e só assim indicará o tratamento mais adequado.
Da mesma forma, diferentes doenças, como diabetes, lombalgias, hipertensão arterial ou catarata, poderão receber a mesma fórmula para tratamento.
As fórmulas sempre contém uma combinação de componentes, geralmente ervas, tratando múltiplos efeitos. Esta combinação também permite a redução de efeitos indesejados, potencialização de efeitos ou, ainda, criar novos efeitos inexistentes nos fármacos isolados.
“A Kampo se difundiu no Japão e hoje volta a crescer pelo fato da alopatia estar demasiadamente especializada, trazendo em seus medicamentos diversos efeitos colaterais ou mesmo a incapacidade do especialista analizar a pessoa como um todo. Com a Medicina tradicional, podemos abordar queixas mais vagas, ter uma visão mais geral da doença”, explica.
E veja como foi a divulgação da palestra clicando aqui.
E-book: download indisponível
Comentários
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Parabéns excelente obrigada sucesso
Olá Natália.
É necessário acessar por este link:
https://kampo.ac/learning/regist/?locale=en
E depois seguir os procedimentos que estão no link seguinte: https://fjsp.org.br/wp-content/uploads/2018/07/procedimento_donwload_ebook_kampo.pdf