Thiago Nojiri – O mangá como paixão; o mangá como profissão

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Ser uma criança no Japão

Quero iniciar este texto agradecendo à Fundação Japão pelo convite para fazer o meu relato ao lado de nomes tão ilustres na arte da tradução do japonês para o português, e também deixar um agradecimento especial à minha amiga e inspiração Drik Sada, quem me indicou para o presente projeto.

Bem, feitas as formalidades, vamos ao que interessa. Para traduzir mangás, primeiro eu precisava saber japonês. No meu caso, aprendi o idioma estando no Japão durante todo o Ensino Fundamental (dos meus 5 aos 14 anos). Assim que completei 5 anos, os meus pais decidiram se mudar para o Japão para trabalharem lá, prática muito comum na década de 1990 chamada de decasségui.

E assim eu fui inserido à sociedade japonesa, frequentando escolas públicas em uma pequena cidade chamada Kisai (atual Kazo), na província de Saitama. Lá eu cresci (quase) como um autêntico menino japonês, só tendo amigos nativos e me comunicando exclusivamente em japonês fora de casa.

Essa contextualização foi apenas para poder dar credibilidade ao meu primeiro ponto: se você é uma criança japonesa (especialmente um menino), os mangás e animês se tornam algo intrinsecamente ligados a você. A criança japonesa é bombardeada com mangás e animês a toda hora; eu digo que é quase impossível “fugir” de conhecer essas obras de entretenimento, em maior ou menor quantidade/intensidade.

E, obviamente, eu não fui exceção. Eu me apaixonei pelos desenhos japoneses à primeira vista, a minha memória mais antiga já é de uma época em que eu conhecia os mangás. É muito difícil eu dizer qual foi o primeiro que li, porque simplesmente não lembro de tão pequeno.

O que eu lembro, aí sim, é de toda semana pegar a Weekly Shonen Jump do meu amigo para ler antes das aulas, junto com metade da classe e vibrar com os capítulos daquela semana. E sabe o mais curioso? Essa cena iria se repetir com consistência por muitos e muitos anos pela frente, até o dia que eu tive que voltar para o Brasil.

Pois bem, essa foi a breve introdução de como se deu a minha fissura pelo mundo otaku. E é claro, nessa época eu nem tinha como imaginar que ganharia a vida estando mergulhado nele, que é justamente o que pretendo contar a seguir.

 

 


 

 

Thiago Nojiri

Tradutor japonês-português especializado em materiais da cultura otaku, desde mangás até light novels. Trabalhou durante cinco anos na Editora JBC, participando de projetos de relançamento de clássicos como Ghost in the Shell e Akira. Em 2017, passou a integrar a equipe da NewPOP Editora para traduzir principalmente light novels, como Re:Zero e No Game No Life, bem como mangás consagrados como Devilman, Kamen Rider e Patrulha Estelar Yamato.

 

 


 

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